Sob nuvens pesadas, frio e ameaça da meteorologia, levantei às 9:00 h por pura teimosia. Passei o fim da tarde de ontem formulando cautelosamente o itinerário dos dias restantes em Brive e hoje decidi trocar a ordem das duas visitas que estariam mais expostas aos elementos. Desaposentei as camadas extras de roupas e saí do quarto às 9:30 h todo paramentado. Esperava que não fosse exagero. Optei por ir a Limoges, a capital da região, onde imaginava estar um pouco mais protegido. No terminal descobri que o trem que havia perdido para a preguiça estava atrasado e comprei uma passagem na bilheteria automática. A ligação seria feita pelo serviço intercités e resolvi ficar na primeira classe por um acréscimo de € 2,00. Acho que deu para perder o trauma da compra. A transação emitia um papel com as informações da reserva, que não sei se serviria como passagem, mas apresentava um código QR. Como tinha acesso à rede Wifi da estação, no entanto, pude importar o comprovante para o aplicativo da SNCF no celular, usando a combinação de letras e digitos impressa. Aparentemente, o desenho era igual ao que aparecia no recibo. O destino final do comboio era Paris e a região da plataforma que abrigava os passageiros de primeira classe estava bem cheia. No vagão especial, minha poltrona estava ocupada. A passageira informou que o meu lugar era no corredor e não discuti, obviamente. Contudo, verifiquei no aplicativo e mostrei que ela estava no assento errado. A desculpa era que havia uma pessoa anteriormente no lugar e quando foi embora ela trocou sem pensar. Fiz questão de assegurar que não havia problema, afinal minha parada estava próxima. E havia outros lugares vazios. Fiquei satisfeito que a conversa, apesar de empregar poucas e curtas frases, se deu totalmente em francês. E ela nem perguntou de onde eu era. Devia ter enganado bem. Saí do trem sob pingos leves para entrar no belo edfício de 1929. Peguei a saída posterior para circular pelo Parque Champ de Juillet, que oferece uma magnífica vista do imponente terminal ferroviário. Retornei para usar a saída principal e descobri que só havia uma. Com menos de 10 minutos de caminhada tive que começar a me despir. Apesar da quantidade de nuvens, o sol, quando aparecia, era abrasador. A confusão geográfica ocorreu porque o rio fica para um lado e o centro para o outro da linha férrea. Tinha pouco menos de quatro horas para passear na cidade e iniciei a caminhada pelo lado fluvial. Limoges era banhada pelo Rio Vienne, o mesmo que passava em Chinon e deságua no Loire. Aproveitei a passagem por um setor mais ermo do parque à beira do rio para me desfazer das camadas interiores, após perceber que havia exagerado na cautela climática. A mochila ficou estourando. Segui até a Ponte Saint-Étienne, construída no séc. XIII para aliviar o tráfego da Ponte Saint-Martial, mais próxima da Catedral. Por aqui passava a Via Lemovicensis, parte do Caminho de Compostela, ainda hoje utilizada pelos pergrinos. Ali perto ficava a etapa final da flutuação dos troncos abatidos nas montanhas para fornecer material de construção e combustível para a cidade além de alimentar os fornos para confecção da famosa porcelana. Fiquei maravilhado dando muitas voltas pelo enorme Jardim botânico do Bispo. Além das árvores centenárias, canteiros perfeitos e floridos, inúmeras espécies de plantas medicinais e ervas, podiam ser vistas várias esculturas, repuxos de água, o Museu de Belas Artes e a Catedral Saint-Étienne. Às 14:00 h comecei a ficar preocupado com o horário da volta. Aparentemente quatro horas não seriam suficientes para conhecer o mínimo de Limoges. Passei correndo por algumas ruas estreitas do centro, a Prefeitura, o Mercado que já estava fechado, a bela e sombria Basílica Saint-Michel-des-Lions e a grande Praça da República, totalmente cimentada, numa tendência contrária aos demais espaços públicos franceses, em que existia muito verde. Entrei no terminal com 30 minutos de antecedência e não vi justificativa para gastar € 6,00 a mais pela primeira classe. Minha poltrona na segunda estava ocupada e reparei que os lugares não são muito respeitados quando os trens não estão lotados. Os franceses nem perdiam tempo em recalamar nessas situações, simplesmente procuravam outra posição e não se aferravam à marcação. Percebi que a diferença entre as classes, embora significativa, só apresentava vantagem para acréscimo de no máximo € 2,00. Em vez de retornar direto ao hotel dei a volta pelo cinturão rodoviário do centro, formado por largas avenidas. Fiquei surpreso com o movimento da cidade, inclusive de pedestres. O objetivo era passar no escritório de turismo para encontrar mais informações sobre os passeios que ainda pretendia fazer. A funcionária me forneceu um folheto com dados sobre várias visitas na região. Esperava poder ter mais algum subsídio com o livreto. Na volta, entrei no supermercado e cheguei no quarto às 18:00 h.