Agora já era capaz de identificar boa parte das construções visualizadas a partir do terraço do hotel. O passeio de ontem me ajudou a reconhecer e ampliar o horizonte geográfico limitado dos primeiros dias. No horário normal subi ao restaurante e fui surpreendido pela notícia de que o café da manhã aos domingos tem início meia hora mais tarde. Já estive em locais em que o serviço não funcionava nos fins de semana. Pude, contudo, sair ao terraço e constatar que o templo nublado e o frio continuavam, apesar de a página de previsões afirmar que o sol aparece durante o dia e as temperaturas devem subir. E foi o que aconteceu. Repeti o caminho do Hypogeo para seguir até uma ponta da ilha, onde havia um templo megalítico e uma caverna de dois milhões de anos. Também era tradicional uma visita ao mercado da cidade de Marsaxlokk aos domingos e o passeio a algumas praias de areia e balneários vizinhos. No caminho para o templo, após ter passado pelo cemitério subterrâneo, fui atraído para a cidade deZejtun. Achava que estava para acontecer alguma coisa quando me aproximei, porque os edifícios estavam todos embandeirados. Também ouvia um som seco ao fundo, que me lembrava fogos de artifício. De fato, ao chegar à igreja na praça central, uma banda estava iniciando os acordes para conduzir a homenagem à Santa Catarina. Muitos fogos, repiques de sinos, música e discursos louvatórios, foram motivos de diversos vídeos. Ao meio-dia deixei a festa para procurar, finalmente o caminho do santuário antigo, a principal atração do dia. Após ter completado boa parte do trecho da estrada rural que estava seguindo, uma placa de rua sem saída surgiu à frente. Como o mapa indicava que eu estava no caminho correto, segui adiante. Apenas com os latidos do cão foi que achei melhor dar a volta mais longa. Ao chegar à praia, andei até o fim do calçadão e me deparei com um totem oferecido pelo Conselho da cidade com um conjunto de seis tomadas para recarga de aparelhos eletrônicos. Justamente o que estava precisando, no momento em que a bateria baixava da metade. Seria ótimo se a minha tomada encaixasse. Eles usam o padrão inglês, de três pinos planos. Obviamente, incompatível com os dois redondos do meu carregador. Deixei a preocupação para mais tarde e subi uma pequena elevação para entrar no templo megalítico Bor in-Nadur. Nos moldes de Tarxien, que conheci anteontem, mas em proporções menores, o amontoado de pedras já foi um local de referência para povo que o criou. Com apenas dois recintos no templo, a zona arqueológica era bem maior, envolvendo toda a região ao redor em que foram construídos grandes muros como fortificação, incluindo a caverna Ghar Dalam, também pequena, porém contendo enorme quantidade de ossos de animais extintos e atuais, além de restos de ferramentas dos homens da Idade da Pedra. Seguindo o conselho da recepcionista, desci a escadaria até o nível da entrada antes de o grande grupo de italianos iniciar sua investigação. Dessa forma tinha a caverna praticamente só para mim. Antes de voltar para a praia dei uma volta pelas salas com explicações sobre espeleologia e a coleção de ossos encontrados, incluindo a reconstrução de esqueletos completos de alguns animais levados para lá pelas enxurradas. Agora que estava com o conhecimento geológico e arqueológico atualizado poderia me preocupar com o problema que tem me perseguido ultimamente. Se a tomada não encaixava na parede, era só usar um adaptador. Contudo, hoje era domingo e imaginava que apenas bares e restaurantes estariam funcionando. Foi só ter este pensamento que surgiu um pequeno supermercado na minha frente. Fiz a pergunta para a funcionária que estava arrumando a geladeira e ela quase caiu da escada com o susto da minha interferência repentina. Fiquei gratamente surpreendido quando ela me mostrou exatamente o utilitário que necessitava. Ela inclusive ligou na parede e conectou meu aparelho para se certificar de que funcionava corretamente. Todo feliz, voltei para a praça pronto para passar pelo menos uma hora na atividade. A decepção foi total. Apesar de o formato ser correto, o pino maior, o terra, não entrou de jeito nenhum. Cheguei a pensar em voltar e perguntar se ela tinha outro modelo, mas era evidente que a culpa era da torre ofertada pelo município. Desisti e comecei a fazer o caminho de volta. O mercado de Marsaxlokk já estava terminando e o que vi não foi muito diferente das feiras de bugigangas de sempre.