Levantei às 7:00 h e comecei a me preparar para a continuação do passeio pela cidade. Sem um objetivo definido iniciei o itinerário no terminal rodoviário, aonde fui verificar as ligações limitadas do domingo. Uma das possibilidades poderia ter sido uma vila com muitos vestígios arqueológicos mas não havia serviço anunciado para lá. Outra tentativa foi atravessar alguns dos portões da enorme muralha que envolve a cidade. Os que ficam para o lado do mar parece que estão todos desativados, abandonados ou trancados. Passei pela Fonte Bembo, dos tempos da dominação de Veneza, construída no final de um aqueduto, à qual foi acrescido um edifício hexagonal pelos turcos que servia como casa de bombas e lavapés. Segui para outro trecho de muralha com uma grande fortificação construída no Bastião Martinego, que é o ponto mais alto do muro e oferece visão panorâmica do centro em direção ao litoral. É em um jardim meio mal-cuidado no topo que fica o túmulo do escritor do século XX Nikos Kazantzakis, famoso por ter realizado, entre outros, o livro Zorba, o grego. Um pequeno painel bilingue decreve brevemente o trabalho de proteção da cidade medieval desenvolvido pelos venezianos e que aguentou por 20 anos os ataques dos turcos, que finalmente tomaram posse na metade do século XVII. Na descida da escadaria deixei um par de corvos enlouquecidos querendo me espantar com seus potentes e insistentes gritos. Acho que estava invadindo propriedade particular. Os bastiões de proteção eram enormes e atualmente servem como grandes parques ressecados, assim como o fosso que acompanha a muralha pelo lado externo que, ao contrário, tem bastante vegetação. Desviei um pouco para o centro e após caminhar por vielas tortuosas cheguei à Igreja de Santa Catarina que abriga o Museu Bizantino. A bela mostra recolhia ícones de várias igrejas e monastérios de Creta, com uma coleção do pintor Damaskinos, do século XVI. Também eram apresentados objetos litúrgicos de prata, túnicas religiosas bordadas e esplêndidos manuscritos e livros encadernados em couro ou com capas esculpidas em metal. Deixei o local no exato momento em que chegava um grande grupo de turistas falando espanhol que bloqueou a passagem por alguns minutos até que um casal mais atencioso permitiu minha saída. Na mesma praça ficava a gigantesca Catedral de São Minas. Tinha vontade de conhecer o Museu Histórico que, segundo o guia eletrônico, possui as duas obras do artista El Greco que estão em Creta. Contudo o guia também indicava que domingo não é dia de visita. De fato, ao voltar para o litoral constatei o fechamento da instituição. Inicialmente confundi o local com uma igreja transformada em recinto de exposição do outro lado da rua. Ela estava aberta, o que me deixou em dúvida, e apresentava alguns ícones em cavaletes num espaço interior totalmente aberto e reformado. Só me dei conta do engano quando sentei sob umas árvores para consultar o mapa. O sol forte me animava a procurar uma praia e andei pelos calçadões ao longo da orla em busca de um local aprazível. Não encontrei. A longa faixa de areia de Amudara era feia e os poucos rochedos por que passei no caminho não eram convidativos. Dei meia volta e retornei para o centro, entrando no quebra-mar sobre o qual foi edificado o imponente forte veneziano. Como ainda não havia desistido totalmente do sol resolvi não visitar seu interior e fui tentar o litoral para o outro lado do porto. Mais uma vez não fui atraído por nenhum recanto e resolvi voltar para o hotel um pouco mais cedo.