Levantei às 6:30 h para verificar as condições do céu pela janela da sala, a única que oferece um pouco de amplidão. As demais estão voltadas para o lado interno do prédio ou para dutos de ventilação entre paredes. O meu apartamento fica no primeiro andar, acima da garagem. Uma escada que sobe pelo meio da construção por três pavimentos dá acesso às demais unidades, duas em cada piso. Na cobertura vive a proprietária. A única coisa que pude enxergar foi uma estrela que brilhava numa manhã ainda escura, acima do alto muro vedado pela porta de aço da entrada de carros. Sem vontade de iniciar o dia tão cedo voltei para a cama na esperança de dormir mais um pouco. Acordei de vez às 8:00 h pretendendo retornar ao centro histórico, dessa vez, contudo, de uma forma mais sistemática. Planejava seguir o roteiro turístico delineado no mapa distribuído pela cidade em vários quiosques de informação espalhados pela Zona Colonial. Saí às 9:10 h mas antes, todavia, fiz um contorno ao redor da parte antiga para chegar ao Parque Enriquillo, praça em torno da qual se reúnem várias companhias de.transporte popular para as regiões vizinhas. A área é meio barulhenta, com várias avenidas movimentadas e lojas de aparelhos eletrônicos duvidosos competindo pelo som mais alto e potente. O grande quarteirão arborizado é bastante agradável, com muita sombra e bancos de ferro circundando o belo coreto. Em volta ficam algumas garagens de ônibus grandes e modernos além de quantidade de peruas e mini-ônibus em vários estágios de decomposição sem parada específica que, às vezes, anunciam seus destinos em tabuletas apoiadas no para-brisas. Geralmente é só no grito do ajudante ou faro do viajante. Teve início então a parte mais turística do itinerário. Após atravessar uma das grandes pontes sobre o Rio Ozama cheguei no lado leste de Santo Domingo, onde a colônia foi inicialmente fundada, antes de ser transferida para a margem direita do largo fluxo aquático. A primeira parada foi no rocambolesco Farol de Colombo, monumento em comemoração ao descobrimento do novo continente. Quando estava me preparando para entrar na área do parque dois guardas da polícia turística se aproximaram para fazer terrorismo, dizendo que eu não deveria andar para muito longe da zona dos turistas. Sempre falando da absoluta segurança na República Dominicana, praticamente me obrigaram a seguir o caminho que julgavam mais adequado, aconselhando a fazer os deslocamentos de táxi ou em grupos organizados. No interior uma série de salas apresentam pequenas exposições, não só de nações americanas, como também de europeias e asiáticas. Há explicações sobre as viagens do navegante genovês, manuscritos e mapas antigos. Na saída a pressão foi ainda pior. Os dois seguranças a pé agora estavam acompanhados por uma viatura. Quanto mais eu falava que estava tudo bem, mais eles insistiam na minha proteção. Como eu me negava a entrar num táxi queriam, quase que por força, mas apenas se apoiando em argumentos, me dar carona até o outro lado do rio. De graça, falavam. Continuava cada vez mais resoluto a completar minha visita sozinho, agora com maior teimosia. Eles também não se rendiam e o policial de carro foi me seguindo enquanto caminhava pelo canteiro central arborizado da avenida que desembocava no rio, seguindo a orientação imperiosa deles. Ele chegou ao absurdo de interromper o tráfego várias vezes para que eu atravessasse sem problemas nos cruzamentos mais movimentados. A paranoia deles era tamanha que comecei a achar que estava numa terra de bandidagem. Finalmente, ao atravessar a ponte flutuante, o simpático mas insistente policial fez a curva se afastando de mim. Comecei a seguir a sequência recomendada de monumentos, contudo resolvi não fazer nenhuma visita aos interiores. Passei por diversos primeiros do continente americano: o primeiro mosteiro, o primeiro convento, a primeira catedral, a primeira residência, a primeira universidade, a primeira rua e muitos outros. Após ver todas as fachadas sugeridas e alguns interiores gratuitos segui em direção ao mar, caminhando por longo trecho da avenida litorânea. Além de conhecer a costa e ver algumas acanhadas praias apenas razoáveis queria também fazer algumas perguntas para um funcionário na agência que vende passagens para Punta Cana, minha próxima base. Já conhecia todo o procedimento a ser seguido para realizar a viagem, porém me interessava averiguar as condições do terminal. Eles não vendem a passagem antecipadamente e no dia definido é bom chegar uma hora antes da partida para adquirir o bilhete. O vendedor respondeu, sem muita vontade de ser simpático, que o transporte costuma ser concorrido. Também aproveitei para medir a distância que pretendo percorrer a pé em alguns dias. Já quando saí pela manhã o provedor de internet não aparecia na relação dos disponíveis e estou usando outra rede aberta que nem sempre está presente. Não encontrei ninguém na cobertura para me explicar o que está ocorrendo.