| 09/jun/24 | Calendário | 11/jun/24 |
| Brive/ Cahors - seg 10/jun/24 * 10 km * (77 fotos) | Mais fotos: | Álbum | Slide show | Vídeos |
O piso de madeira do hotel era extremamente barulhento e estava claro que eu não era o único hóspede. Outro som bastante estridente e desagradável era o da descarga eletrônica, que dava a impressão de que algo ia sair voando. Contrariamente ao que me pareceu pelas páginas meteorológicas, o ar matutino estava muito gelado. Tive o bom senso de pegar o casaco antes de percorrer os 100 metros até a ferroviária vizinha. Pretendia fazer uma viagem de 
uma hora para o sul até a cidade de Cahors (leia caór). Comprei a passagem meio cara na máquina automática, mas dessa vez só a de ida. Desde as 8:50 h o trem já aguardava na plataforma, para partida apenas 30 minutos mais tarde. Ao sair de Brive começou a aparecer um pouco de sol. Antes de terminar o percurso as nuvens voltaram e o bilheteiro passou para identificar os passageiros. Iniciei o passeio tremendo de frio, o que continuou por mais de 
uma hora. A parada inicial foi na Torre do Papa João XXII, cuja família era de boas posses e havia erguido um palacete na cidade natal do futuro chefe da Igreja. Ele foi destruído há muito tempo e em seu lugar surgiram novas construções. Na região da morada original ficava a Igreja de São Bartolomeu, fechada para visitas. Na mesma região também ficava uma praça com o Memorial dos mortos na Guerra franco-prussiana de 1870 e um jardim com mirante 
permitia a observação do Rio Lot. Desci até o embarcadouro à beira do rio para ter uma visão mais abrangente do centro. Além das casas dava para ver a torre da prisão antiga. Continuei pela rua principal do centro histórico até a Catedral Saint-Etienne. Nas calçadas era possivel observar as vieiras indicativas do Caminho de Compostela, que passava por aqui. Foi tocante ver as duas peregrinas com seus bastões se abraçando na ponte da entrada da c
idade. Dever cumprido. Passei ainda pelos edifícios do Palácio de Justiça e da Prefeitura, ambos na avenida principal. O museu fechava às segundas-feiras, mas não teria entrado mesmo se estivesse funcionando. Estava com o tempo relativamente curto porque pretendia pegar um trem mais cedo de volta para Brive. Além de chegar muito tarde, a ligação das 17:30 h era num intercités, aquele que me deixou traumatizado em Tours, com assento reservado. A 
principal atividade que pretendia realizar na cidade era a subida até um mirante do outro lado do curso de água. Cahors estava situada numa língua de terra cercada pela curva de 180° do Rio Lot. Uma das imagens que havia me atraído quando montava o roteiro era a do tal miradouro, que ficava no alto de um dos montes que cercavam a cidade. Considerava um desafio completar a aventura, não pela distância ou inclinação, mas pelo tempo reduzido dispon
ível. Atravessei a ponte das duas peregrinas e iniciei, pelo percurso definido com ajuda do aplicativo de mapas, a subida de uma estrada pavimentada, não muito íngreme. Atingi o topo às 13:00 h, me sentindo aliviado de não precisar correr muito. As vistas oferecidas da base do Cruzeiro eram espetaculares. Passei quase meia hora admirando a paisagem. Quando comecei a descida, notei uma trilha para ciclistas que parecia estar em boas condições e a
rrisquei a rota com uma economia de mil metros em relação à estrada asfaltada. O trajeto não oferecia muitos obstáculos além de uma ou outra poça de lama e dos degraus esculpidos na pedra. De volta ao nível da água, cruzei para o outro lado pela maravilhosa Ponte Valentré, construída no séc. XIV com permissão concedida pelo rei Felipe, o Belo. Os trabalhos tiveram início em 1308 e só foram entregues em 1380. Conta a lenda que o arquiteto, sem co
nseguir terminar o projeto, apelou para satanás, empenhando sua alma. Não entendi direito a tarefa que o construtor determinou ao diabo mas, de qualquer modo, como ele não teve hesito na realização, teve que liberar a vítima. Entrei no terminal ferroviário às 14:00 h, 30 minutos antes da partida desejada. Deu tempo para comprar a passagem e aguardar tranquilamente na plataforma. A chegada estava marcada para 15:50 h e dessa vez não houve inspeção.