O céu estava bastante nublado quando subi para o café da manhã. Por um lado isto poderia ser bom por conta da longa caminhada planejada para o dia. Se as previsões se confirmarem, sem a ocorrência de chuvas, seria um bom exercício. Saí para o frio externo às 9:00 h e quase me juntei ao grupo de ginastas na Praça do Tritão para me aquecer. O trecho inicial sempre se repete. Para sair de Valeta por terra era necessário atravessar Floriana e Pietá. O destino de hoje conduzia para o centro da ilha, deixando as águas para trás. Percebi que a melhor forma de descobrir em que cidade estava, como alternativa para as placas de boas-vindas nem sempre presentes, era atentar para as informações dos pontos de ônibus. Além das linhas e nome da parada, os painéis continham a especificação da localidade. A caminhada de aproximadamente 12 quilômetros me levaria à cidade que já foi capital da ilha. Rabat, assim como sua vizinha Mdina, tem um centro medieval e algumas das atrações oferecidas fazem parte do bilhete que comprei ontem. O trajeto, apesar de longo, não envolvia dificuldade, definindo quase que uma linha reta, sem necessidade de desvios. Boa parte do caminho pôde ser percorrida em uma larga faixa verde para bicicletas, que praticamente não tinha movimento. Como tem se mostrado padrão por aqui, atravessei os limites de várias cidades num contínuo de moradias e estabelecimentos comerciais. Nos últimos três quilômetros a garoa começou a apertar e estava me deixando muito desanimado. Com a ajuda inestimável do GPS encontrei a primeira atração pouco depois de ter enfrentado a ladeira que conduzia para a elevação em que se encontram as duas cidades. O apóstolo Paulo, que espalhava o cristianismo pelo Mar Mediterrâneo, sofreu um naufrágio na ilha de Malta e é extremamente venerado. Na primeira parada fui conferir as Catacumbas de São Paulo. Não ficou clara a ligação do santo com o necrotério, mas os cristãos gostavam de sepultar seus familiares nestas tumbas subterrâneas. Ao passar pela bilheteria e mostrar minha condição de isento de pagamento, percebi as instruções para baixar o aplicativo em áudio do mesmo formato que o do Museu de Arqueologia de ontem. Hoje, contudo, não tive paciência de ouvir os mais de 50 trechos explicativos sobre cada vitrine, pedra ou sepultura. Decidi fazer a visita sem muita orientação e, como não estava de bom humor em função da chuva fraca, não pretendia passar muito tempo no local. Entrei em alguns complexos de tumbas que eram bastante labirínticos. Corredores estreitos e baixos causavam grande confusão entre os turístas que iam e vinham, mas, ao menos, a água não entrava. Quando saí, os últimos pingos deram lugar apenas ao vento frio. Segui para a Casa Romana, um pequeno museu que conserva os restos de uma habitação aristocrática e serve de depositário de objetos de antes da era cristã, quando havia moradores do império na ilha, que serviu como apoio nas guerras púnicas contra Cartago. Da casa em si não sobraram vestígios, porém os pisos cobertos por mosaicos foram bem conservados. A descoberta acidental em 1881 também encontrou um cemitério muçulmano, de uma época em que esta civilização começava a se espalhar pelo mundo. Além da chuva e frio, o que me deixava bastante deprimido era o uso da bateria. Andava desesperado procurando uma tomada, sem sucesso algum. Estava quase desistindo de visitar Mdina, a cidade murada que estava grudada em Rabat mas, com o tempo em pouco melhor fiz a principal das visitas. A Catedral de São Paulo é uma maravilha e estava toda enfeitada para o casamento que seria realizado ali em algumas horas. Levei três horas para ir, fiquei outras ter horas passeando e gastei duas horas na volta. Nem de longe estive tempo suficiente para conhecer o mínimo. De posse do conhecimento atual, teria, provavelmente, passado algumas noites nas duas cidades. Elas mereciam muito mais do que pude lhes dedicar.