Quando desci às 7:00 h o refeitório já estava aberto e em dez minutos terminei o prato de ovos mexidos e as duas fatias de pão com queijo. Voltei para o quarto para pegar a mochila e quinze minutos depois de acordar estava andando apressadamente em direção ao ponto de ônibus do Parque Areos. Algumas nuvens no céu e a baixa posição do sol deixavam o ar um pouco frio, apesar dos 29° C do termômetro de rua. Pela informação da internet o transporte para Maratona parte às 7:30 h e havia outro veículo que poderia usar como segurança meia hora mais tarde. Percorri o quilômetro e meio em passo largo conseguindo chegar 5 minutos antes da primeira partida que havia selecionado. Logo encostou um carro admitindo uma dúzia de passageiros. Certifiquei-me com a funcionária que organiza o fluxo de que ia para o lugar correto e entrei pela escada do meio. O 'sim' dos gregos é 'né' e como isso sempre me deixa confuso, precisei também de um 'yes, yes'. Perto da saída da cidade o cobrador passou pelo corredor recebendo o valor das passagens. Fiquei sabendo que depois do meu destino, que fica no interior, o motorista ainda segue para a praia de Skinias (leia Isquiniás) para onde pretendo caminhar. Cheguei no centro de Maratona às 9:00 h e o cobrador desceu junto. Já sabia que a cidade não apresenta nenhum interesse turístico e o Museu da Corrida, que poderia ser uma alternativa, estava fechado. Quatro quilômetros voltando pela estrada em direção ao oceano fica o Museu Arqueológico, no local em que foi disputada a famosa batalha com os persas. O mapa eletrônico indicou uma rota de sete quilômetros pelo interior, sem passar pela estrada principal, que atravessava um alto morro e precisou de quase duas horas para ser percorrida. O céu ficou bem mais encoberto do que na saída de Atenas e o vento era forte. Estava me perguntando por que dois exércitos inimigos resolvem fazer guerra no alto de um morro, quando há tanta planície por perto. O caso foi solucionado quando fui barrado no portão por um segurança. Perguntei o que estava acontecendo e ele me respondeu alguma coisa de helicópteros. Em seu parco inglês tentou me mostrar o caminho do Museu. Quando pedi a sugestão ao mapa eletrônico defini equivocadamente como ponto final um ícone que indicava a base militar de Maratona. Depois de uma hora a mais e alguns quilômetros adicionais retornei ao caminho correto e encontrei o Museu Arqueológico. Não é bem o que eu esperava. Achei que fosse exclusivo sobre a guerra de 490 a.C., contando sua historia, motivos e heróis, mas pouco se fala dela. A maior parte dos itens da coleção é de cacos de cerâmica escavados nos cemitérios da redondeza. No jardim da instituição fica uma tumba coletiva do que eu achei serem os 192 atenienses que ganharam a guerra e a fama. Foi daqui que partiu Filipedes correndo até Atenas para proclamar a vitória ocorrida. Segundo a lenda ele morreu de exaustão. O resto está registrado na cultura ocidental. Iniciei então o caminho para as praias e em pouco tempo enxerguei mais uma grande estrutura protegendo outro cemitério arcaico. Na entrada havia um mapa cultural da região que me explicou por que eu não reconhecia a tumba do Museu Arqueológico. Na realidade, aquela era dos plataenses, aliados da cidade de Atenas. A verdadeira tumba dos 192 é muito mais imponente, embora fique num enorme parque circular gradeado que não permitia visitas do interior. Somente era possível admirar o monte através da cerca. A praia ficava a pouco menos de dois quilômetros deste sítio arqueológico e não era muito bonita. Andar pela orla foi um passeio agradável, no entanto. Após um longo desvio para contornar o rio tinha início uma estrada paralela à praia de Skinias. Como já estava preocupado com a volta, optei por continuar pelo asfalto para ver se enxergava algum ponto de ônibus. Tendo encontrado alguns fiquei mais tranquilo e caminhei até o final do trecho para atravessar um morro em direção à praia de Dikastika (leia dicasticá), que é na verdade um costão rochoso com acesso ao mar. A subida me deixou assustado e achei melhor voltar para não perder o transporte. Entrei novamente na estrada de Skinias, que é a típica via de caminho secundário na Grécia. Estreita, com duas mãos, movimentada, sem acostamento e com o mato das margens encobrindo parte do pavimento. Toda a redondeza faz parte do parque de preservação. De um lado fica o bosque de pinheiros e do outro um alagado que pode ser admirado do alto de um torre de observação que serve também para ornitólogos amadores. Ao passar por uma das paradas ainda faltava uma hora para o horário definido na tabela da internet. Sem querer esperar tanto tempo resolvi continuar até Maratona e pegar a condução de lá. Contudo o cansaço me fez diminuir o passo e vi que naquele ritmo não ia dar certo. Já havia passado mais de meia hora e logo o motorista devia passar. Para me assegurar abri novamente a tabela e verifiquei que a data de validade era a partir de 24/06. Como já estava parado e no lugar decidi ver se aparecia algo. Não apareceu. O jeito foi executar meu plano anterior e torcer para que de Maratona desse para voltar para a capital. As sugestões do mapa eletrônico insistem em me enganar. O caminho mais curto identificado passava por uma estrada de terra entre plantações e, quase no fim, um agricultor se esforçou para me dizer que por ali não havia saída. Tive que retornar tudo e seguir pela rota conhecida do litoral, pela qual tinha vindo anteriormente. Se o horário listado fosse correto teria chegado 10 minutos antes da partida, mas tive que esperar outros 10 minutos. Pelo último quilômetro caminhei sob pingos grossos porém a garoa se restringiu a isso. Depois de todo o percalço cheguei no hotel às 21:00 h louco para me livrar do melado e da poeira acumulada. Acho que tentei fazer muita coisa no mesmo dia, sem poder contar com transporte adequado. Não sei se vou aguentar esse esforço todo até o fim. Mais um dia em que a conexão com a rede esteve um lixo.