Pouco antes das 2:00 h o embarque no lotado Boeing 737-800 teve início. Achei que a poltrona do meio na minha fileira fosse ficar vazia, que era o que aparecia no mapa de assentos no momento da confirmação pelo computador ontem pela manhã. Não foi o caso e a viagem foi bastante apertada. Muitas crianças, inclusive no fundão. O americano sentado do meu lado usou o celular para tentar traduzir uma solicitação para que eu trocasse de lugar com sua esposa. Não fiquei muito satisfeito, contudo a aeromoça passou perguntando se a passageira da ponta estava disposta a mudar para a cadeira ao lado da saída de emergência, com um pouco mais de espaço para as pernas. Ela ficou entusiasmada e tudo foi resolvido sem eu perder minha janela. Provavelmente a vaga com que estava contando foi ocupada no último momento pelo casal gringo. O voo deveria durar seis horas e dez minutos, segundo o aviso do capitão, que também alertou para o início turbulento do percurso. Dormi grande parte do tempo, só acordando para as refeições. A inicial, na saída de São Paulo, quase não conta. Era apenas um pacote de bolacha wafer que mal valeu abrir os olhos. Mais perto do final foi a vez do café da manhã, mais generoso e saboroso, com ovos, salsicha e pão com manteiga. Surpreendentemente as crianças se comportaram muito bem, quase não se fazendo notar. Enquanto serviam a refeição a turbulência recomeçou com alguma intensidade ao iniciar a travessia da Cordilheira dos Andes, nas proximidades de Bogotá. Foi meio corrido porque o piloto já estava diminuindo a altitude para pousar, o que ocorreu às 5:55 h, duas horas antes da segunda decolagem. O pouso no estacionamento remoto da pista obrigou o uso de ônibus para entrar no terminal e houve quase meia hora de atraso em relação ao prazo otimista anunciado no início do percurso. Contudo, de acordo com os horários marcados originariamente, tudo foi cumprido. A conexão não demorou muito e dessa vez o mesmo modelo de avião, que estava bem mais vazio, permitiu que eu desfrutase sozinho as três poltronas da minha penúltima fileira pelas duas horas do trecho até Santo Domingo, capital da República Dominicana. Aproveitei os poucos minutos em terra para acessar a rede ofertada pelos aeroporto. No início tive alguma dificuldade com a conexão, porém logo voltou tudo ao normal. A bagunça que um monte de crianças num voo lotado não fez, apenas uma, numa aeronave com menos de metade da lotação, conseguiu realizar. A energia ia e vinha e, por alguns minutos, era possível ficar em paz. A travessia totalmente feita sobre o mar foi bem chata por não apresentar litorais ou contornos de terra para observar do alto. Somente a grande quantidade de nuvens permitia perceber o deslocamento. O omelete do primeiro voo estava melhor do que o amassado de ovos servido aqui. Eles só oferecem cobertores para trajetos de mais de três horas e tive que tentar não pensar muito no frio. Às 11:10 h toquei no solo do novo destino. O que chamou minha atenção logo na aterrissagem foi o grande número de edificações destelhadas. Será sinal de furacões passados? A saída da aeronave demorou um pouco e em vinte minutos entrei na grande fila da imigração que, contudo, me colocou dentro do país com passaporte carimbado, em outros vinte minutos. A fila seguinte, da alfândega, foi um pouco mais chata. Não havia indicação de qual das duas possibilidades seguir. Como a que eu havia escolhido estava demorando para passar no raio-x entrei na vizinha, só para ser mandado de volta quando fui atendido pela policial. Eles perceberam que estava muito lento e tentaram agilizar a verificação das bagagens pela única máquina disponível. No final fui selecionado para passar pela inspeção manual da agricultura, onde a funcionária ficou na dúvida se eu podia entrar com dois ovos cozidos que sobraram do meu farnel. Liberado, saí, em fim, para o saguão principal sem pagar os US$ 10,00 da taxa turística de cuja obrigatoriedade tinha informação. Depois do processo burocrático chegou o momento das decisões práticas e a primeira era como chegar ao centro. Não existe ônibus do aeroporto e tinha notícia de uma possibilidade de transporte usado pelos funcionários que sairia do piso superior. No entanto a Alicia resolveu o meu impasse oferecendo por e-mail dois dias atrás traslado direto para a hospedagem. Aceitei a sugestão e, ao sair da imigração, um cartaz com meu nome me aguardava. Cobraram US$ 25,00 pelos 30 km. Havia cogitado do caminho a pé mas, quando verifiquei a distância, percebi a impossibilidade. E isso quando ainda pensava que o aeroporto em que chegaria era o que distava apenas 20 km da Zona Colonial. O Internacional fica mais longe. Fui recebido por alguém que me direcionou para o Dani, que dirigia o veículo. Ele não fazia questão de conversar, o que achei ótimo, apesar do constrangimento de ser conduzido em carro particular e como único passageiro. Às 12:30 h a Alicia me recebeu na porta da propriedade e, na dúvida se deveria dar gorjeta para o motorista, não ofereci nada. O nome pomposo de ApartHotel não condiz muito com as condições. Parece oferecer todas as amenidades mas com acabamento e decoração duvidosos. No entanto é barato e central. A internet pareceu muito boa no primeiro momento e eu fiquei com uma baita preguiça de desempacotar tudo para permanecer somente cinco noites na cidade. A proprietária falou que traria alguns itens como copos e outros mais tarde e, respondendo à minha pergunta sobre cartão, falou que queria receber dinheiro americano. Arredondamos para US$ 200,00 incluindo o táxi. Quando eu falei que não precisava se apressar para trazer o pequeno troco ela preferiu entender que era para ficar com o troco. Não valia a pena entrar em discussão por causa de pouco mais de US$ 2,00. Às 14:30 h saí para a primeira volta pelo centro histórico. Durante três horas caminhei em meio aos belos edifícios que contam com a primazia de serem os primeiros de seus tipos nas Américas, como a Catedral e o Castelo. Andei pela primeira rua, onde foram construídas as primeiras casas. Entrei no Parque da Independência que comemora a reconquista da liberdade na guerra com o Haiti, que dominou a República Dominicana por mais de trinta anos. Existe um bom supermercado a poucas quadras do hotel e aproveitei para pegar algum dinheiro local numa das únicas máquinas que vi desde que cheguei pela manhã. Não procurei no aeroporto por que não ia precisar de pesos tão cedo, já que o transporte para o centro e o pagamento das diárias estavam resolvidos. O problema foi a alta taxa que essas máquinas cobram para disponibilizar o saque.