A acústica do hotel canalizava a conversa dos vizinhos, e especialmente as altas risadas, diretamente para os meus ouvidos desde as 6:00 h da manhã. Por sorte, não dava para entender nada. Quando as despedidas foram completadas e os carros partiram, a tranquilidade voltou ao ambiente. Pretendia terminar a visita do centro e saí do apartamento às 10:30 h. A cidade ficava pendurada numa colina e a primeira atração requeria a escalada do morro. O Monte do Calvário já era mencionado em arquivos do bispo desde o séc. XIII. Posteriormente uma capela foi construída no cume e durou até o final da dominação otomana, quando foi demolida. Em 1812 a pequena rota foi ampliada para as dimensões atuais e já era administrada pelos jesuítas. Com a extinção das ordens religiosas o local entrou em decadência e estava completamente abandonado após a Segunda Guerra. Com a dissolução da União Soviética, esforços foram tomados para recuperar as instalações e em 1984 o novo Calvário foi inaugurado. O monte sempre foi usado para procissões no dia de Corpus Christ, não sei se elas ainda aconteciam atualmente. Originalmente as placas das estações eram de calcário, porém a rápida deterioração motivou a troca por esculturas de bronze enviadas da Alemanha pelo Rio Danúbio e em seguida trazidas para Pécs em carroças. Os portões que davam acesso ao gramado que passava pelas esculturas e levava à capela circular no alto estavam fechados, no entanto uma escadaria por fora dos muros conduzia a um mirante com belas vistas do centro histórico. No topo me deparei com uma trilha que seguia a subida e cogitei de fazer um exercício. Porém o sol forte e o calor logo me trouxeram à realidade. Havia uma torre de tv bem no alto, com alguns mirantes, segundo o mapa eletrônico, que deveriam proporcionar ótimos panoramas do entorno, todavia considerei que o esforço não valeria a pena. Segui apressado para a Catedral para tentar ouvir de perto as doze badaladas. Havia a possibilidade de adquirir ingressos combinados com alguns museus, contudo não pretendia visitar mais nada no último dia na cidade. Existia uma igreja no local desde que o Rei Estêvão criou o bispado de Pécs em 1008 e naturalmente ela veio sofrendo inúmeras alterações ao longo do tempo. Recebeu a proteção de torres e muralhas na Idade Média, como consequência das invasões mongóis em 1241 e, por algum motivo que não ficou claro, foi inteiramente renovada no séc. XIX, recebendo pinturas decorativas no estilo neorromânico. A subida de uma das quatro torres para observar os sinos e o panorama não foi cansativa, talvez pela pouca altura. O que exigiu maia cautela foi o posicionamento dos pés nos degraus de madeira. Achei mais prudente guardar o frasco de água na mochila para ficar mais ágil, em caso de necessidade. Quando estava saindo às 13:15 h notei a pressa dos funcionários em esvaziar o templo para a preparação de um evento privado. Do lado da igreja ficava a reconstrução da universidade medieval, que foi criada por bula do Papa Urbano V em 1367. Andei bastante pelos jardins, pela Praça da Catedral, observando o edifício do Palácio Episcopal de um lado e o Arquivo Municipal de outro. Subi na torre de defesa mais intacta das muralhas e passei uma hora tomando vitamina D ao lado de uma fonte, onde as pombas vinham se refrescar. Ao lado ficava um mausoléu paleocristão. O nível superior, na altura da praça podia ser visualizado gratuitamente pelos passantes. O inferior, no entanto, em que foram identificadas pinturas murais com temática cristã e os diversos sepulcros de dois andares do séc. IV, era mantido com ingressos. Não interessou. Voltei para o hotel para preparar a nova transferência de base de amanhã. Levei um susto quando fui conferir o bilhete de reserva para o trem e percebi que o assento era o mesmo em que havia feito o trajeto de vinda. Analisei atentamente a data, o horário e o destino e tudo estava correto. Devia ser apenas coincidência.