Ao analisar com mais calma e paciência ontem à noite o monte de papel com informações sobre as visitas comecei a perceber a grande besteira que achava ter cometido. O ingresso para o complexo da Catedral parecia ter validade de 48 horas e, ao visitar o Batistério ontem, dei início à contagem que, portanto, deveria terminar hoje. Acontece que fiz a reserva da Cúpula para amanhã, me dando a impressão de que isso violaria as regras do bilhete. Depois do aguaceiro da última noite o tempo amanheceu mais calmo e deixei o quarto às 8:00 h com a intenção principal de verificar se seria possível corrigir o erro. As ruas ainda estavam encharcadas mas o céu estava limpo e o ar gelado por causa do sol baixo e das construções. O escritório de venda para o conjunto da Catedral ainda estava fechado e não pude solucionar minha dúvida imediatamente. Dei uma volta na igreja e reparei que não havia fila para subir o Campanário, situação ideal para fazer a tentativa. Foi bastante cansativo subir os 82 metros por 414 degraus estreitos. As pessoas subiam e desciam pelo mesmo caminho e devia ser bem estressante fazer as curvas fechadas da escada em caracol com trânsito intenso nos dois sentidos. Provavelmete essa era a razão de as filas ao longo do dia serem tão longas. Naquele horário, contudo, a frequência ainda não era muito alta. Foram dez metros e cincoenta degraus a menos que a vizinha Cúpula da Catedral. A atração seguinte foi o Palazzo Vecchio, sede do governo e residência de algumas gerações de Medici. No grande salão Cinquecento ficavam os imensos painéis de Vasari descrevendo uma batalha famosa vencida pela cidade. Os apartamentos da família tinham decoração exuberante, com afrescos decorando os tetos de todos os cômodos. Depois da Sala dos Mapas surgiu a indicação de subida para a Torre. Após vinte minutos na fila encarei mais 223 degraus numa escalada bem menos movimentada, auxiliada por escadas mais largas. O topo foi um pouco decepcionante já que grande área perto das bordas estava cercada por cordas, impedindo a aproximação. Além disso já conhecia as vistas de uma subida maior e mais desafiante. Segui para o Palazzo Bargello, construído como assento do governo da república florentina no século XIII e transformado em museu em 1865. O pátio interno exibia uma grande coleção de brasões em pedra e terracota e os dois andares de salas mostravam expoentes da escultura como Donatello, cujo bronze de Davi pisando na cabeça cortada de Golias, era uma das obras de destaque. Também havia alas dedicadas ao pai e filho della Robbia e a Verrocchio. Outras coleções da instituição incluíam a sala de armas, a dos bronzes, a dos marfins e das esculturas colossais em mármore ou bronze. Um crucifixo de madeira atribuído a Michelangelo ocupava seu espaço numa vitrina da capela do palácio. Quatro de suas obras estavam em exibição na sala das grandes esculturas. Saí às 15:00 h para tentar uma última visita, desta vez à Basílica de Santa Croce, onde estavam enterradas diversas personagens italianas de importância na cultura e ciência ocidentais como Michelangelo, Galileu, Rossini, Maquiavel, Ghiberti e mais uma penca. Outro famoso, o pintor Giotto, decorou duas capelas ao lado do altar com as vidas de São João Batista, São João Evangelista e São Francisco de Assis. A Basílica de Santa Croce era um marco para os florentinos contemporâneos por causa da terrível inundação do Rio Arno de 1966, a maior da história, que soterrou o templo sob diversos metros de lama, danificando inúmeras peças artísticas centenárias. A restauração foi demorada e o crucifixo criado por Cimabue, parcialmente recuperado, foi eleito símbolo do esforço conjunto pela normalização da grave situação. O tempo esteve excelente por todo o dia, desmoralizando mais uma vez a metereologia, que continuava insistindo em alertar sobre grandes chuvas.