A madrugada foi toda pontuada pelos ruídos de trovões e pelos clarões de relâmpagos. Não ouvi barulho de chuva mas o solo estava encharcado quando levantei pela primeira vez, às 7:00 h. Pretendia voltar para Malia (leia mália) para visitar o Palácio no sítio arqueológico, porém a caminhada de ontem estava descartada e imaginava pegar o ônibus frequente que vem de Iraklio e continua até as ruínas. A abertura só ocorreria às 9:00 h e a distância não deveria levar mais do que meia hora para ser percorrida mas a preguiça de enfrentar um céu nublado logo cedo me segurou na cama por mais uma hora. Não consegui dormir novamente e deixei o quarto mais cedo. Depois de usar a Internet por alguns minutos comecei a subida da altitude de 30 metros para os 90 metros do ponto de ônibus. Era a primeira vez que fazia essa curta caminhada no sentido inverso e, no início da manhã, ela não foi cansativa. Também tive um bom motivo para não pensar no cansaço. O céu estava mais feio do que havia imaginado mas confiava na previsão de melhora apesar de, logo de saída, ter ouvido um trovão estourando. O estrondo não era de brincadeira e os menos de dois minutos da pancada me deixaram ensopado. Não havia abrigo para onde fugir. Quando decidi encostar numas folhagens o pior já tinha passado. Terminei de subir e entrei na parada do ônibus, só para ser informado por uma grega que também aguardava que teria que comprar o bilhete no bar do outro lado da estrada. A chuva havia recomeçado e me molhei mais um pouco. Pensei em esperar a água parar de cair mas o horário marcado na passagem me dava cinco minutos e achei melhor atravessar de novo. Quando a bilheteira perguntou para onde eu ia descobri que poderia ter pago diretamente para ela. Não sei porque ainda continuo pedindo informação para estranhos. Durante os 15 quilômetros da rota percorrida em 30 minutos vários episódios molhados ocorreram e não havia lado em que não houvesse nuvem pesada apesar dos pequenos intervalos mais claros. O sítio arqueológico de Malia é composta pelo Palácio Minóico e a cidade nas proximidades. As ruínas estão bem preservadas mas achei as informações pouco elucidativas. Havia uma sala de exibição com algumas maquetes e reconstruções, além de esquemas dos achados. Durante toda a visita o troar das nuvens se fazia ouvir, no entanto, o passeio continuava viável e pude andar pelo local por uma hora até outra pancada forte ter me prendido em uma das estruturas de proteção criadas visando os vestígios antigos, como eu. Vinte minutos sentado numa pedra me deram coragem de enfrentar o resto da garoa para chegar em outra região coberta na continuação do passeio. Tive que aguardar mais dois episódios de dez minutos de água martelando fortemente e de forma ensurdecedoura a cobertura plástica da Zona M para conseguir andar até o estacionamento e entrar no ônibus. Havia previsto a possibilidade de tempo ruim tendo visto a previsão ontem à noite e, na falta de condições de passar o resto do dia na praia, havia cogitado de pegar um transporte até Iraklio para visitar o Museu Arqueológico e antecipar o pouco tempo que teria para conhecer a capital da ilha. Com vinte minutos de atraso em relação àquele afixado teve início a viagem de uma hora. Por causa do trânsito intenso cheguei à bilheteria às 13:15 h e o sol já estava retornando. A instituição é maravilhosa. A reforma estava completa desde 2014 e a exibição é muito maior do que a temporária que presenciei da vez anterior em que estive aqui há alguns anos, durante a remodelação. Os dois objetos que fazia questão de ver eram o pingente de ouro em forma de abelhas e a adaga cerimonial, ambos encontrados em meio às ruínas que visitei pela manhã. Mas o Museu apresenta uma coleção espetacular, com milhares de objetos, em que os afrescos do Palácio de Knossos (leia nossós) são apenas uma das atrações. Além deles a exibição cronológica expunha didaticamente as diversas fases das culturas cretenses, com destaque para a minóica e os artefatos descobertos nas várias escavações da ilha. Vasos de todos os tipos, tamanhos e matérias, jóias, artefatos para culto, figuras de deuses e pessoas comuns, selos de identificação pessoal, inscrições em hieróglifos cretenses e escritas Linear A, ainda não decifrada, e em Linear B, que foi a utilizada pelos micênicos, sucessores dos minóicos e antepassados dos gregos clássicos, urnas funerárias e sarcófagos e mais uma infinidade de provas da técnica, arte, cultura e crenças dos povos locais, fazem dessa instituição uma das mais significativas para a compreensão de nosso passado comum. A visitação foi dificultada pela grande quantidade de visitantes, especialmente dos grupos turísticos, cujos guias monopolizavam amplos espaços para teceram suas explicações. Peguei o ônibus das 16:00 h, mas não o que faz a ligação normal das cidades e sim um específico do circuito dos hotéis, que passa mais perto da minha pousada. Com isso evitei caminhar desde a estrada sob clima ainda não muito firme.