Fui acordado às 23:00 h por dois insurdecedores e insistentes toques de alarme no corredor. Algumas vozes e portas batendo não esclareceram o ocorrido e continuei dormindo. Desci às 7:30 h para me servir do farto café da manhã incluído na diária. Seria uma pena se não pudesse aproveitá-lo amanhã antes de sair para o aeroporto. Geralmente os hotéis cobravam entre € 6,00 e € 12,00 adicionais pela refeição matinal e precisava reservar. No longo caminho até o refeitório pude perceber que o sol forte continuava insuficiente para aquecer o ar e decidi aguardar pelo menos uma hora no quarto antes de ir para a rua. Recebi pela manhã uma mensagem da TAP disponibilizando o check-in pela internet e já me registrei no voo para o Brasil. Se tinha alguma ideia fixa antes de vir para a Europa era a de gastar algum tempo do último dia na maravilhosa livraria do Museu do Louvre. A falta de espaço de armazenagem deveria diminuir bastante meu ímpeto. O fato de a distância entre a instituição cultural e a hospedaria ser grande, de sete quilômetros, também serviria como inibidor do meu impulso. Carregar sacolas pesadas por todo esse percurso não parecia tarefa adequada para exercer em tempos de canicule. Claro que sempre existia a possibilidade do metrô, mas isso apenas em ultimíssimo caso, se não conseguisse resistir de forma alguma. A mera verificação que fiz no mapa de uma ligação quase que direta entre os dois pontos, era um péssimo indicador da minha intenção. Acho que acostumei com a água francesa. Em todos os lugares por que passei achei o gosto ótimo e a da torneira de Paris não me revoltou como nos primeiros dias. Os quatro quilômetros iniciais foram consumidos no deslocamento entre a hospedagem e a Praça da Bastilha e no meio não tem nada muito turístico, a não ser os belos, largos e arborizados bulevares e dezenas de pequenos recantos com bastante vegetação. Em seguida atravessei o Pavilhão do Rei para entrar na Place des Vosges, que cerca o Jardim Luís XIII. É num de seus ângulos que fica a Casa de Victor Hugo, com a mostra sobre a vida do escritor que viveu ali. A parada seguinte foi no Museu de História de Paris, apelidado de Carnavalet, uma deturpação do nome da residência de Madame de Sévigné, do séc. XVI, viúva do professor do futuro rei Francisco II. Isso é o que lembro de ter lido numa daquelas interessantes placas com a história de Paris em frente aos prédios históricos mas não consegui confirmar na internet. Ou a placa estava errada, ou minha memória não ajudou ou ainda, não soube fazer a consulta adequada. Segunda-feira o museu não funcionava, mas não teria entrado mesmo que estivesse aberto. A visita cultural das instituições da cidade merece viagem específica. O primeiro dia da semana definitivamente não é uma boa escolha para passeios culturais. O vizinho Museu Picasso também estava fechado. Como não organizei um roteiro previamente, fiz bastante uso dos bancos sob as árvores nas inúmeras pracinhas que servem de local de exercício para a população canina. Após cada atração, entrava, sentava e pesquisava o que havia pela redondeza. Depois de avistar a fachada do Arquivo Nacional entrei numa igreja de nome complicado e continuei atravessando o bairro do Marais em direção ao Museu de Arte Moderna, instalado no Centro Georges Pompidou, o famoso Beaubourg. A Fonte Stravinsky com seus elementos móveis e coloridos ao lado do edifício estava em reforma. A passagem seguinte foi pelo Centro Comercial des Halles que, além das muitas lojas e da ondulante cobertura apelidada de Canapé, abriga em seus subterrâneos o maior complexo de transporte público da cidade. Ao lado fica a Igreja de Santo Eustáquio e a Bolsa de Comércio, transformada em sala de exposições. Já era meio-dia e chegava a hora da extravagância da viagem. Entrei no Museu do Louvre pelo acesso menos tumultuado do Arco do Carrossel, atravessei a revista de segurança e entrei na loja do museu. Acho que ela deve ter sido transferida de lugar e atualizada. Não era como eu me lembrava das viagens anteriores. De qualquer forma, a seção de livros no mezanino era recheada com títulos sobre todos os temas e assuntos artísticos e históricos. Fui comedido e só saí com poucos volumes, que achei que poderiam ser entrouxados na mochilona. Não foi necessário carregar sacolas no metrô e somente um arranjo mais cuidadoso do saco de utilidades foi suficiente para empreender o caminho de retorno. O sol continuava brilhando, porém havia muita sombra e em uma hora estava de volta no quarto, pronto para arrumar os pertences pela última vez nessa viagem.