Com as nuvens mais comportadas do que imaginava saí do quarto às 7:40 h para caminhar até um dos centros de turismo, que ficava bem na frente da estação central, onde poderia comprar o passaporte dos museus. Ainda não estava funcionando e, como só abriria em meia hora, fui até o seguinte, do lado da Catedral. Foi meio difícil de encontrar e, além de também só começar a funcionar às 9:00 h, uma nota na entrada alertava sobre a impossibilidade de aquisição do cartão no local. Voltei ao terminal ferroviário e tive que esperar alguns minutos pela abertura do escritório. Provavelmente estavam arrumando o problema técnico e, na minha vez de ser atendido, precisei aguardar a reinicialização do computador. Aqui eles também saíam do ar. O sistema de ingresso valia por três dias corridos e era um pouco confuso. A principal coisa a fazer após a compra seria reservar um horário para a concorrida Cúpula. Depois de algum esforço consegui operar a máquina e obtive o comprovante para o sábado, já que os horários livres para amanhã eram apenas no final da tarde. Na troca do passaporte pelo ingresso nos monumentos do conjunto da Catedral, quando era feita a reserva da escalada, o funcionário prestou uma série de informações que me deixaram com mais dúvida ainda. Para espairecer atravessei a rua e apresentei o bilhete na leitora automática. Ao contrário do que havia entendido, pude fazer a visita do Batistério imenso naquele momento. O edifício era a estrutura mais antiga do complexo e continha maravilhosos mosaicos descrevendo cenas bíblicas. Fiquei desconcertado ao sair e dar de cara com um sol espetacular que exigia um passeio pelo grande parque do outro lado do rio, que também era coberto pelo passaporte. Atravessei a Ponte Vecchio e segui até o Palazzo Pitti que, além de cinco museus, abrigava o Jardim de Boboli. Passei uma hora andando pelas alamedas ensolaradas e visitei o Museu da Porcelana. O parque tinha várias fontes enormes e perto de uma das saídas ficava uma gruta artificial, tudo da época renascentista. Deu para ver o Corredor de Vasari, um túnel elevado particular usado pelos dirigentes para se deslocar da residência para a sede de governo no Palazzo Vecchio, passando sobre as lojas da famosa ponte. Entrei no Museu do Tesouro que, além da esplêndida coleção de jóias, prataria e objetos pertencentes à casa dos Medici, permitia a visão das salas ricamente decoradas com afrescos. A exposição temporária mostrava uma extensa coleção de pratos de prata usados na comemoração de São João, o padroeiro da cidade. Na outra ala do palácio ficava a Galeria Palatina e os Apartamentos Reais com mais decoração deslumbrante. Fazia tempo que eu não entrava num palácio e fiquei extasiado e boquiaberto com a suntuosidade, atravessando as portas em sequência de tantas salas que mais parecia jogo de espelhos. As pinturas baseadas na mitologia grega que adornavam os tetos eram soberbas. A parada seguinte foi breve, no Palazzo Vecchio, que fechava na quinta à tarde e teve que esperar a visita em um dos próximos dias de validade do cartão. Segui então para a Capela Medici, anexa à Basílica de São Lourenço, escolhida para a construção da tumba monumental da família. No andar superior ficava a Sacristia Nova, criada por Michelangelo para abrigar os restos dos parentes mais próximos. Os demais estavam enterrados sob diversas lajes simples no piso de baixo. Grande parte dos monumentos de Florença ficava aberta até quase o começo da noite mas eu só tinha tempo para mais uma visita, fosse por já estar cansado ou porque ainda teria uma boa caminhada até o hotel. Escolhi a Galeria da Academia, famosa por abrigar o original da estátua Davi de Michelangelo, cujas cópias enfeitavam a praça central da cidade e o mirante que levava o nome do artista em que estive ontem. Apesar de o cartão poder ser geralmente usado para evitar as filas essa instituição não permitia a regalia, oferecendo apenas a facilidade de usar a fila dos agendados, teoricamente mais rápida. Quando entrei, depois de vinte minutos, descobri que a demora era por causa da verificação de segurança nas máquinas de raio-x. Além da obra maior do gênio patrocinado por Florença, o museu guardava ainda as esculturas inacabadas que Michelangelo deixou para trás quando se mudou para Roma. A Academia também exibia uma extensa coleção de pinturas da época renascentista e uma sala com centenas de moldes de gesso de dois escultores do século XIX. Iniciei o retorno às 17:15 h e me deparei com uma grande nuvem escura ao longo do percurso. Ela foi paciente e aguardou minha chegada à hospedagem. Mas, depois de uma hora e muito estrondo, começou a chuva tão aguardada pela metereologia.