Saí do quarto às 8:10 h, frustrado por não conseguir ter transmitido os dados para o servidor. Tentei contato de vários modos com a Locaweb, sem resultado. Comprei a passagem das 9:00 h para Chinon, a cidade em que Joana dArc convenceu Carlos VII a reivindicar seu direito ao trono. Entrei na rede da estação de Tours e, desta vez, ela não pediu cadastro. Devo estar conhecido. Não sei porque fiquei surpreso de a transmissão dos dados funcionar. Havia cogitado ontem à noite de fazer o teste em outra rede além da do hotel mas não o fiz por considerar que esta seria uma tentativa pouco provável e infrutífera. A plataforma foi anunciada 20 minutos antes da partida e dei de cara com apenas um vagão. Sentei na janela de um conjunto de quatro poltronas, porém logo tive que mudar para a do corredor por causa do frio do ar-condicionado. A viagem teria seis paradas e duração de uma hora. Não adiantou ficar no corredor e voltei para a janela. Descobri que uma das cidades atendidas por esta linha ficava próxima a Vilandry. Poderia ter andado menos na quarta-feira. Iniciei o percurso para entrar na cidade pela marginal do Rio Vienne e passei pela porta atravessada por Joana dArc no séc. XV. As muralhas já deixaram de existir há muito tempo mas, de qualquer forma, estava pisando em seus passos, 600 anos depois. As várias referências a François Rabelais pelo centro permitism desconfiar que o escritor havia nascido na cidade. Fiz o contorno pela parte baixa da fortaleza real e comprei o ingresso às 11:15 h. Estava incluído gratuitamente o tablet, que aqui se mostrou duplamente irritante. Além de não ter visto muita informação útil, ele não tinha fita para pendurar no pescoço e tive que carregar o trambolho, menor do que os anteriores contudo, nas mãos por toda a visita. Ao subir a torre do relógio, inclusive, guardei o aparelho na mochila. Os vários patamares continham alguns dados sobre a importância de marcar as horas na Idade Média, o mecanismo instalado desde o séc. XIV, e alguma táticas de defesa. A maioria das pequenas salas estavam vazias. Em 1307 o Rei Felipe, o Belo, cobiçando o tesouro dos Templários, prendeu 75 de seus membros em Paris sob a acusação de heresia. O Papa Clemente, que estava em Poitiers, solicitou o envio dos prisioneiros para serem julgados. O Rei concordou, mas manteve os 5 principais, dentre eles o mestre da ordem, Jacques de Molay, em Chinon, suspeitando das razões do chefe da Igreja. Entrei na ala residencial construída por Henrique II no séc. XII e pude admirar a Sala Plantageneta e os apartamentos de Carlos VII e de Maria dAnjou, sua esposa. Pelo castelo passaram vários nomes conhecidos da história, como os irmãos Ricardo Coração de Leão e João sem Terra. A exposição na cozinha era uma recriação do cardápio de Elenora de Aquitânia, que estava comemorando 900 anos. A cidade real se Chinon tinha três grupos de edificações. A entrada era através da Torre do Relógio. No meio ficava a ala residencial criada pelos plantagenetas e ao fundo a zona mais antiga da fortaleza e suas diversas torres defensivas. Todas estavam abertas para visita e, apesar da ausência de objetos, demandavam, cada uma, a subida de pelo menos três ou quatro lances de escada, muitas em caracol. As vistas dos terraços no topo eram espetaculares e amplas, como seria necessário no caso de ataques. Foram vários, incluindo cercos longos. Era a época da Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra, quando os domínios ainda não estavam estabelecidos. Na saída precisei tirar o casaco e tentar acomodá-lo com os três novos livros na mochilinha. A ideia era continuar a visita até uma cidade próxima para conhecer mais um castelo. Pelos horários que havia conferido na chegada, calculava que tinha uma hora para chegar no terminal. No entanto, a partida seria meia hora antes do que imaginava e o trem já estava recebendo passageiros. Entrei na fila da bilheteria onde percebi que o atendimento na minha frente iria demorar. Fui à máquina automática no exterior do prédio para adquirir o bilhete para Azay-le-Rideau. Aqui era importante usar o qualificativo do nome se não quisesse parar do outro lado da França. A viagem duraria apenas 20 minutos e o vagão único estava um pouco mais vazio do que na primeira etapa. A ferroviária de Azay ficava longe do castelo e caminhei os dois quilômetros em pouco menos de meia hora. A diferença entre as duas edificações reais era enorme. A simplicidade da primeira parte do dia contrastava com a opulência da segunda visita. As salas foram mobiliadas segundo os gostos extravagantes do séc. XIX, porém acho que na origem também deveriam ser exageradas da mesma forma. Grande parte dos cômodos tinha as paredes cobertas por tapeçarias enormes ou retratos dos famosos da época. Uma curiosidade observada no início do percurso, que começava no sótão, foi a precaução tomada pelos responsáveis pela manutenção com a colônia de 50 morcegos em risco de extinção que habitava suas vigas. Nas reformas locais acolhedores para os ninhos foram estrategicamente distribuídos. Havia consultado os horários de retorno e o das 16:22 h deixaria o passeio muito corrido. Optei pela ligação das 18:00 h e pude aproveitar o dia espetacular sentado no parque do castelo até uma hora antes da partida. Estava temendo perder o trem que, imaginei, fosse o último do dia. Os monitores, no entanto, anunciavam mais dois. Resolvi comprar no terminal de Tours a passagem para amanhã e evitar correrias. Deu muita confusão e não sei exatamente o que eu fiz. A bilheteria humana estava fechada por alguma razão. Estava acostumado com as automáticas e comecei a reserva. O trajeto era um pouco mais complicado, envolvendo troca de trem. A primeira máquina que tentei estava muito lenta e no final ela cancelou a compra. Fui para a outra e tudo parecia correr bem, até que recebi somente o bilhete da ligação inicial. Achei que precisaria comprar a segunda separadamente e devo ter acabado comprando duas vezes. Pelo menos era o que dizia o extrato do cartão de crédito. Como a saída era só ao meio-dia, teria tempo de esclarecer alguma coisa com um vendedor. Para garantir, verifiquei também que o aplicativo para transmissão de dados continuava funcionando. Teria que completar a confecção dos arquivos no hotel e, se a rede deles não estivesse funcionando, teria a segurança da ferroviária. Não estava. Mas como era muita coisa, deixei as imagens dos vídeos para a manhã e só transmiti o texto e as fotos.