Hoje juntou a preguiça com a instabilidade climática para tentar me manter na cama. O céu estava totalmente nublado e a chuva fraca era uma possibilidade em qualquer hora do dia. Às 7:30 h teria início o café da manhã incluído na diária e nem mesmo esta atividade tinha vontade de completar. Desperto e encasacado, num esforço sobre-humano, me carreguei para o último andar para desfrutar da refeição no roof top. Após um desjejum extremamente farto e longo, que durou quase uma hora, saí para observar a vista maravilhosa do topo do hotel. Ficou patente que o dia não seria de muitas visitas. Achava que uma sessão de leituras de folhetos turísticos e talvez algum livro sobre a história da ilha seria uma boa opção. Para encontrar os itens desejados saí às 8:30 h para tentar o escritório de turismo. Quando abriu, às 9:00 h, peguei um guia gratuito e perguntei onde tinha uma livraria. A atendente rabiscou o mapa colorido indicando uma loja na frente do Museu de Arqueologia. A garoa já havia começado, porém eu resolvi seguir enquanto aguentasse. A simpática recepcionista Claudia do Hotel comentou o quanto é incomum chuva em Malta, especialmente em junho. A livraria era bem variada, mas resolvi não comprar nada naquele momento, apesar dos produtos tentadores. Voltei para o centro da cidade atravessando o Fosso e passando pelos principais marcos como o novo Parlamento, diversas muralhas, torres e bastiões, o Teatro Real de Ópera, destruído na Guerra e mantido ao ar livre, a Catedral de São João, o Forte Santelmo, que abriga o Museu da Guerra e tanto mais. Além de muitas, muitas escadarias. Desde sua criação no tempo das cruzadas, a Ordem dos Cavaleiros de São João, com sede na Ilha de Rodes, abrigava seus membros segunda a procedência e cada grupo construía alojamentos para seus filiados. Desta forma surgiram os diversos albergues, como o catalão, o aragonês, o provençal, o português e tantos outros. Muitos destes edifícios existem até hoje, apesar de terem sofrido toda sorte de alterações para departamentos de governo, moradia ou hotelaria. Cada albergue era responsável pela guarnição de um sistema de defesa nas torres e bastiões. Por enquanto passei em Malta pelo Albergue de Castela, que fica ao lado do hotel, o de Aragão e o da Baviera. Segui no contorno da península para o lado do porto Marsamxelt que separa Valeta, o centro de governo de Malta das cidades mais festeiras de Sliema e St. Julian. Estava sentindo falta das águas de Roma. Cada esquina da Cidade Eterna tem uma fonte, bebedor ou hidrante, sempre com água excelente, para completar a cota da garrafa particular. A garoa fina, que terminava e recomeçava não era suficiente para impedir o passeio, porém transformava o calçamento em pedra ensaboada para os meus chinelos. De volta ao centro para um intervalo com sorvete, observei a estátua que homenageia o fundador Jean de Valette, ao lado da igreja que contém a pedra fundamental da criação da cidade, erigida para substituir a antiga capital, que ficava na outra margem do Grande Porto, após o maior feito dos Cavaleiros: a manutenção do controle da ilha ante demorado cerco realizado pelos Otomanos em 1565. Os turcos já haviam conquistado Rodes 30 anos antes, o que obrigou os cristãos a fugirem para Malta. Na segunda metade da visita fiquei indo e vindo pelas ruas paralelas, subindo e descendo as ladeiras e escadas das vias mais ingrimes e lendo as placas informativas que encontrava pelo caminho. Neste zigue-zague passei pela Universidade de Malta, a Igreja dos Jesuítas, a Biblioteca, o Memorial pelas vitimas do cerco à ilha durante a Segunda Guerra e o jardim Barrakka Inferior. No final da tarde o sol se achou forte o bastante para ameaçar surgir entre as nuvens num prenúncio de dias melhores. O frio ainda não havia passado e fiquei com o casaco o dia todo. Às 16:00 h voltei para o quarto.