Hoje era dia de mais uma troca de pousada e havia imaginado pegar o ônibus das 8:30 h para Anissaras (leia anissarás). Acordei com duas horas de antecedência e às 7:00 h já estava pronto para sair. Como nunca fica ninguém na recepção desse hotel saí sem me despedir, apenas deixando a chave na fechadura. A caminhada de um quilômetro por rampas, ladeiras e escadarias para cima e para baixo é bem cansativa para fazer logo cedo, apesar de equivaler a menos de cinco andares de subida. Mas o pior foi aguentar uma hora de ataque de moscas enquanto aguardava a entrada do veículo na rodoviária. Calculava em uma hora e meia o tempo de deslocamento, o que me deixaria bem cedo na nova hospedagem. Como sempre fui torcendo para que eles me recebessem, e principalmente às mochilas, antes do horário autorizado. A dúvida que me afligia no pré-embarque, embora soubesse que não haveria problema, dizia respeito a o que fazer com a mochilona. Pelo seu porte ela deveria ir no porão, obviamente. Porém, como ia descer no meio da estrada, já que não existe uma estação servindo a localidade, não tinha certeza de como recolher a bagagem. Para me tranquilizar falei com a simpática bilheteira pouco antes da abordagem e ela afirmou que acompanharia toda a viagem me avisando de como proceder na descida. O GPS seria suficiente para me indicar a parada, só não queria que o motorista fosse embora com os meus trastes. Estava reavaliando minha opinião sobre a amabilidade dos gregos. Sempre os considerei grossos e antipáticos mas acho que essa visão preconceituosa era apenas fruto do desconhecimento da minha parte. Infelizmente ainda não consigo me comunicar na língua deles o que, certamente, ampliaria a estima. Outro ponto que poderia ser ponderado se relaciona com a suposta rivalidade entre os habitantes do continente e os cretenses, que prezam bastante sua identidade afinal, foram os introdutores da civilização na Europa. A viagem foi mais rápida do que imaginava e às 10:00 h a cobradora já estava retirando minha mochila do bagageiro inferior. Apenas um quilômetro me separava do hotel e, por mais devagar que andasse, não conseguiria entrar muito mais tarde. O Ben estava de prontidão, com minha reserva de quatro noites sobre o balcão. Pediu meia hora para se certificar da limpeza do quarto e me registrou em seguida. Ainda não tive sensação de lotação completa nas hospedagens de Creta. Pelo contrário, parece que sou sempre um dos poucos hóspedes, quando não o único. Atribuí esse fato à época do ano. As férias europeias só acontecem em agosto e até mesmo o turismo parece ter sido afetado na Grécia. Ainda assim pela primeira vez o ônibus lotou. Na aproximação da área mais turística da ilha, em que a minha localidade é uma das alternativas de pernoite, muitos passageiros entraram nas diversas paradas da região central. O quarto era espaçoso e confortável mas o incômodo, de que eu tinha conhecimento prévio e não poderia reclamar, era que a rede wifi só funcionava nas áreas comuns. Tinha uma pequena esperança de efetivar o acesso de dentro do quarto, mas não havia nem o mais fraco sinal. Teria que me deslocar à recepção ou ao bar quando fosse fazer as transmissões. Um grande inconveniente. Às 11:00 h dei início ao reconhecimento. A poucos metros do hotel fica uma longa faixa de areia e pedra, quase ininterrupta, que é compartilhada por diversas pequenas cidades. A primeira era Anissaras, onde fica o hotel. Logo em seguida vem Analipsis (leia analípsis) e depois Gouves (leia gúves), onde foi construído o grande Aquário de Creta e de onde retornei, após completar sete quilômetros de caminhada. Voltei pela mesma mistura de calçadas, calçadões e areia, atravessando uma pequena área de proteção natural no meio do percurso, onde nada é construído. Em compensação o resto do litoral e uma sequência de enormes hotéis e pequenas pensões, bares, tavernas e mercadinhos. Após passar novamente pela rua da pousada estiquei a rota para o outro lado, até o grande resort que provoca o desvio da via para o interior e para cima. O outro lado tem uma paisagem bem mais interessante, com pequenas praias delimitadas por penhascos. Descobri nesse passeio que reservei um hotel no meio da nada. Existem diversos mercados ao longo do calçadão do litoral mas o único supermercado de verdade que encontrei aberto ficava a mais de dois quilômetros, ao lado da rodovia. Ainda não havia me conformado por ter deliberadamente marcado uma permanência tão longa num local que não tem internet no quarto. Não entendo como pude fazer tal barbaridade.