Conforme esperado, o dia amanheceu ensolarado e frio. Cansado do passeio fluvial de ontem, estava com vontade de desistir da travessia para a cidade de Dinard na outra margem da baía. Não tive coragem de abandonar o traje completo. Dependendo do correr da jornada, poderia começar a descascar. Saí às 9:00 h em direção ao centro murado, atravessando antes, na rua comercial perto do hotel, o mercado de sábado, que parecia ser basicamente uma extensão das vitrines das lojas para as calçadas, incluindo a proibição de circulação de veículos. Havia uma grande fila de carros aguardando a oportunidade de embarcar, provavelmente para o sul da Inglaterra, em uma balsa atracada no porto comercial. Creio que a necessidade de imigração após a saída do Reino Unido da União Europeia deveria estar contribuindo bastante para a demora, com a verificação obrigatória de todos os documentos. O ar resolveu permanecer totalmente imóvel e não consegui andar mais de meia hora sem fazer uma parada não programada no terminal marítimo no meio do caminho para me despir de uma camada extra. Uma exposição sobre navegação à vela e regatas ocupava o espaço intermediário do grande saguão, separando a área das bilheterias de um corredor largo. Segui pela parte externa das muralhas até chegar ao Castelo e ao Cassino. Ali tinha início uma larga e longa faixa de areia que se estendia por três ou quatro quilômetros até as falésias que suportavam o Forte da Varde. Como despedida da França, resolvi caminhar pela areia, aproveitando o clima excelente. Os nomes das diversas seções da praia se sucediam quando surgiu um grande afloramento rochoso que, apesar das tentativas, me impediu a passagem dos poucos metros que me distanciavam de nova possibilidade de caminhada até os penhascos. Decidi fazer um intervalo sentando nas pedras para adiantar alguns trechos do diário mas logo fui expulso pela subida rápida da maré. No retorno ao centro, andei pela rua dos restaurantes, vizinhos uns dos outros e todos lotados. Mais ainda do que filhos, os franceses gostam de cachorros e estavam todos levando seus donos para passear pelo centro histórico. Na direção do litoral observei com mais cuidado as duas ilhas Bé, a grande e a pequena, que são ligadas ao continente na maré baixa. É na maior que se encontra a tumba de Chateaubriand. Antes de entrar no hotel, passei mais uma vez pela rua do mercado de sábado, um pouco mais cheia no meio da tarde. Coincidência ou não, a cama estava arrumada, o banheiro tinha nova toalha e a cortina foi fechada.