Sonhei que estava caçando o pássaro que me serve de despertador. Às 6:30 h ele disparou e eu continuei deitado, desanimado com as nuvens presentes. Dormi novamente até às 8:30 h, quando resolvi descer. Não deu tempo de andar dez minutos antes de o céu escuro soltar o primeiro aguaceiro. Me abriguei no grande edifício circular que serve de mercado novo, em cujo segundo andar encontrei um agradável banco de madeira. A garoa passou rápido mas o tempo continuava nublado e eu não tinha muita vontade de levantar. Continuei o passeio após alguns minutos sem ânimo para andar muito e fui sentar num banco de concreto na entrada da baía interna. Naquele momento a ponte flutuante estava sendo aberta para passagem de um rebocador. O interessante durante o processo é que os pedestres podem continuar andando pelo trecho que se move sobre a água. Apenas quem ainda não entrou na ligação é impedido de iniciar a travessia até o novo fechamento. Do outro lado entrei no centro comercial adaptado na velha fortaleza para continuar pela calçada que conduz ao estacionamento dos navios de cruzeiro. Ao longo do calçamento placas desenvolvem um curto mas interessante e abrangente histórico da ilha e seus habitantes. O inconveniente é conviver com o forte cheiro dos charutos. Parece que para ser bem-sucedido esse hábito horroroso é essencial. Ali perto fica o terminal de onde saem os ônibus para a outra ponta da ilha, em que se encontram as praias mais famosas. Para chegar até elas seria necessário fazer uma longa viagem com o transporte coletivo. A ideia, no momento, era apenas reconhecer o terreno. Segui a caminhada num sentido paralelo ao litoral e depois de alguns quilômetros um desvio levava para o Parque Luta pela Liberdade que, inclusive, apresenta o nome de Zumbi dos Palmares em uma de suas colunas. A sequência pode ser percorrida por uma ciclovia à beira do mar que vai até a baía Piscadera. Como estava embalado resolvi esticar até a baía Sami alguns quilômetros adiante. Havia a indicação de um caminho contornando a baía Piscadera de onde deveria desviar para o interior antes de poder voltar para a costa. Parte da estrada era asfaltada e então segui por terra. Ia muito satisfeito quando surgiu um portão trancado no fim da trilha. Era um estabelecimento privado, com cara talvez de oficina mecânica. Podia ver, poucos metros além, a continuação do asfalto por onde teria que passar. Havia som musical no interior e imagino que estivesse habitado. Se tivesse aparecido alguém poderia ter pedido a gentileza de atravessar a pequena distância. Até daria para escalar o portão se não tivesse chance de ser pego mas, na situação corrente a opção mais viável foi reverter os passos. Fiz algumas simulações para chegar pelo trajeto oficial porém isso consumiria mais vinte quilômetros, considerando a volta para o hotel. Acabei desistindo e retomei a ciclovia litorânea. Com o sol agradável, e como ainda era começo de tarde, não pude deixar de me esticar por duas horas no chão forrado de pedras do intervalo entre a vegetação ao lado da pista e o mar.