04/ago/22

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06/ago/22

Mais um dia de incertezas. O passeio planejado era uma longa viagem de barco pelo Rio Rance até a cidade medieval de Dinan. Os dois últimos dias em St. Malo deveriam ser bastante ensolarados mas o vento não permitia negociação. Saí todo coberto e melado de protetor às 8:00 h, com muita antecedência em relação à partida das 10:15 h. Como não havia comprado o bilhete e não sabia se haveria tumulto, decidi me antecipar. Fui o primeiro a entrar no terminal e a vendedora falou que o embarque ocorreria a partir das 10:00 h. Também disse que, como não havia comida a bordo, poderia pensar em levar um piquenique. Como a porta para a ponte estava fechada, imaginei que deveria aguardar em uma das três cadeiras disponíveis. No entanto, mesmo ela sendo automática, com possibilidade de descer imediatamente, achei que a espera ao relento seria penosa. Logo apareceram outras cinco pessoas que, como eu, resolveram não se aproximar das imediações do barco, que era grande, com capacidade para mais de duzentos passageiros, com espaços internos e ao ar livre. Normalmente prefiro a coberta ensolarada porém não estava certo do que escolheria na situação ventosa, numa viagem de 2:45 h. Quando os passageiros mais corajosos iniciaram a abordagem às 9:00 h, decidi segui-los. Era apenas a mudança do início da fila, porém logo a corrente foi retirada. No último segundo antes de entrar o recepcionista reparou que eu estava na fila errada. A minha nave era bem menor e estava estacionada ao lado. Estava mesmo surpreso com a quantidade de gente disposta a enfrentar a longa aventura. Fiquei ao mesmo tempo aliviado, por não ser o único, e pesaroso pela lotação quase completa da nova embarcação. Os marinheiros atenciosos atrasaram a saída em 10 min por causa de quatro retardatários. Além disso pararam na cidade vizinha por viajantes inesperados. Não deu para entender. Não eram dois ou três. Foram dezenas! Talvez fosse uma parada programada de que eu não tinha conhecimento. O início da jornada compreendia a entrada no Rio Rance através de uma eclusa. Quinze barcos de passeio se espremeram para aguardar o fechamento das comportas e permitir a continuação da navegação. Normalmente eclusa funciona como elevador de barco, mas não reparei em nenhuma diferença de nível. A barragem de 700 metros de extensão foi entregue na época do presidente Charles De Gaulle em 1966. Além de regular o fluxo do rio, ela serviu de local para a construção de uma usina anexa para aproveitamento das marés, que nesta região têm variação muito grande. Segundo o guia, a energia gerada pelas 24 turbinas é suficiente para manter uma cidade do tamanho de Rennes, de 200.000 habitantes. Dentre as pontes que cruzam o rio, a mais curiosa é a que foi projetada por Gustave Eiffel, o mesmo da torre de Paris. A estrutura metálica por ele idealizada foi substituída por uma de concreto após as profundas avarias sofridas durante a Segunda Guerra. Apenas os pilares originais continuam existindo. A França é conhecida por seus canais e um dos governantes que deu impulso ao programa dessas construções foi o Imperador Napoleão I, que em 1804 imaginou uma forma de passar do Canal da Mancha para o Oceano Atlântico sem que fosse necessário contornar toda a península da Bretanha. A façanha foi atingida pela combinação de canais com mais de 200 km de extensão e 64 eclusas. Dinan é uma vila medieval simpática como tantas outras que existem no país. O passeio deixava livre um período de apenas duas horas para a visita, muito pouco para compreender a cidade. Após escalar a íngreme subida que vai do nível do rio até as alturas da muralha, andei apressadamente pelo centro, conhecendo algumas fachadas e igrejas. O local mereceria um tempo bem mais longo para seu usufruto. O dia foi todo de muito sol, porém o vento quase me congelou, especialmente durante as fortes rajadas no trajeto de volta. Depois de desembarcar foi que lembrei de não ter deixado as janelas do quarto abertas ao sair pela manhã. Talvez esse tenha sido o motivo de encontrar tudo desarrumado como estava quando saí.