Desde 6:30 h estava vendo um céu claro pela janela, finalmente. A viagem do dia estava marcada para 9:00 h, no entanto eu tinha que falar com a direção do hotel sobre o valor a mais cobrado no sábado. O recepcionista chamou a responsável, que também não sabia o que fazer e enviou a reserva por e-mail para instâncias superiores para averiguação. Receberia a resposta no final do dia. Aproveitei para sair para a rua e avaliar a sensação da temperatura. Continuava bem gelado, mas eu tinha intenção de, no máximo, levar o casaco. Só estava na dúvida porque ele ocupava quase todo o espaço da mochilinha. Voltei ao quarto para os ajustes finais, ciente de que o trem escolhido ficara inviável. Torcendo pelo aquecimento durante o dia, desci de bermuda, camiseta e chinelo sem meia para estudar novas possibilidades no terminal ferroviário. O horário padrão das saídas era 9:00 h. A maior parte das minhas escolhas teria que obedecer esta restrição. Comprei um bilhete de ida e volta para Loches, anunciada no aplicativo de mapas como cidade real. Fiquei na dúvida porque o castelo que estava pesquisando com este nome ficava em outro local. Em resumo, não sabia para onde estava indo. Só que ficava a uma hora de distância. O frio estava suportável, quando não ventava, o que era raro. Sentei num banco sob o sol na praça em frente para aguardar 30 minutos. Avisos no monitor alertavam sobre a importância de entrar no carro correto, já que a primeira metade não sairia da plataforma. Pela designação das paradas intermediárias pude descobrir para onde estava indo. Enquanto aguardava a partida das 10:10 h pude perceber no mapa a diferença entre as posições conflitantes. Uma chamava Loché e eu estava indo para Loches, a cidade turística. O frio dentro do trem continuou ameno, com a vantagem de não ventar. O percurso foi muito agradável. Ao chegar entrei no escritório de turismo para pegar um mapa e descobri que as atrações estão divididas em três percursos indicados por símbolos no calçamento. Ia começar pelo azul, que era sinalizado desde a saída da estação de trem, porém uma consulta ao mapa mostrou que seria mais conveniente iniciar pelo mais curto, o vermelho, que passava pelo Jardim Público e oferecia visão geral dos monumentos. Após contornar as muralhas atravessei a imponente Porta Real para entrar na Cidade Real. Dentre os vários monumentos, os principais eram a Igreja Saint-Ours, com o túmulo de Agnès Sorel, namorada do Rei Carlos VII, os Apartamentos Reais e o Torreão. Uma interessante exposição temporária falava sobre o rei itinerante, ressaltando a importância politica e diplomática de ser visto pela população e mostrando as dificuldades dos deslocamentos até os alojamentos nas diversas moradias reais em épocas medievais. Loches foi passagem de Joana dArc quando viajava a Chinon para convencer o futuro rei de sua missão. Mais um mal-entendido na volta. Comprei o bilhete das 15:47 h e apenas quando estava na plataforma foi que descobri que a ligação neste horário era por ônibus. Alertado pelo chefe da estação, fui para a frente do terminal aguardar junto com mais um monte de gente. Não lotou, mas estava bem cheio. Havia uma conexão mais tarde e acho que esta seria por trem, porém na hora da compra achei que não gastaria tanto tempo na visita. Penso que devo ter cometido uns três ou quatro equívocos no passeio. Loches é pequena, mas tem muita coisa para ver. O horário posterior não teria sido exagero. Depois da visita aos Apartamentos Reais pude usar o ingresso para acessar a grande fortificação do mesmo período. O torreão, composto por três torres principais e vários patamares, era enorme e com muita coisa para ver e ler. Parece que, além de função residencial, ele era usado principalmente como fortaleza defensiva e prisão. Peguei o tablet na entrada e ele foi especialmente incômodo para subir e descer as estreitas e íngremes escadarias em caracol, com degraus em que mal cabia um pé. Não deu para conhecer tudo com a calma merecida e tive que sair correndo para não perder a condução. A biblioteca aumentou um pouco, no entanto. Nem visitei o centro novo. Na hora de entrar no ônibus foi outra confusão. Apresentei a passagem de retorno do trem e o motorista falou que não valia. Quando mostrei a original da ida, ele aceitou. Pelo que havia investigado, as viagens rodoviárias são bem mais baratas do que as por trem. Se tivesse feito todo o percurso, de ida e volta, pela estrada teria gastado muito menos. Contudo, o trem era mais confortável. Os franceses gostam bastante de rotatórias em vez de cruzamentos e fiquei surpreso por não enjoar enquanto digitava no celular. Só fui parar de sentir frio após as 14:00 h porque havia muito vento gelado. Talvez tenha aposentado a roupa quente precocemente. Em Tours voltei ao centro para passar no único supermercado que havia achado até aquele momento e retornei ao hotel para verificar a situação com a diretoria. Cada vez tem uma pessoa diferente na recepção, mas não precisei relatar todo o problema novamente porque o assunto do brasileiro chato que não parava de falar do reembolso devia ser de conhecimento geral. A gerente com que conversei pela manhã já havia saído, porém o novo recepcionista anotou todos os dados para fazerem o estorno no dia seguinte cedo. Não é só no Brasil que gostam de enrolar. E por falar de casa, um grande grupo de brasileiras barulhentas chegava com malas enormes. Não sei qual foi o problema, mas uma das visitantes, carioca aparentemente, estava criticando fortemente a guia, dizendo que era da área de turismo e não concordava com a atuação da colega.