Fiquei com preguiça e receio de empreender uma aventura incerta e arriscada pelas altas montanhas e litoral do lado do mar aberto da Península de Pelion e preferi confiar apenas nos meus dois pés, andando pela costa do lado de dentro da baía. Acordei às 6:00 h, 7:00 h e 7:30 h e saí do quarto, finalmente, às 9:00 h, quando já não havia perigo de, num acesso de insensatez, entrar no ônibus das 8:30 h. A parte inicial do caminho já era conhecida, percorrendo os calcadões perto do centro e chegando até o Museu Arqueológico. Foi de Volos que Jasão saiu a bordo do Argo com seus argonautas para recuperar a pele de ouro. Uma réplica do barco em tamanho natural está atracada no porto e uma escultura da mesma embarcação adorna os jardins da avenida da orla. Depois de passar pela praia de Anavro (leia anávro), a mais central, segui os trilhos abandonados da estrada de ferro que acompanha o litoral por alguns quilômetros. A costa não é das mais encantadoras mas os penhascos que entram no mar atraem muitos banhistas. Uma zona industrial, em que sobressai uma enorme e horrorosa fábrica de cimento, define o limite da cidade com o balneário vizinho de Agria (leia agriá). Em muitos trechos não pude andar pelo mato alto que envolvia os trilhos e precisei usar o asfalto. Os pinheiros margeiam a estrada e por vezes se espalham por pequenos e agradáveis bosques nas encostas e à beira da água. Depois de duas horas caminhando sentei num dos gazebos construídos na parte inicial de Agria para descansar um pouco e para estudar a sequência do programa. Estava um pouco preocupado porque, de acordo com o mapa eletrônico, a rodovia faria um desvio para o interior, se afastando do mar. No entanto, estradas de terra e trilhas na areia permitiram que continuasse o percurso para as praias de Soutrali (leia sutráli), Kalamies (leia calamiés) e Karnagio (leia carnáio), separadas por um canal raso que entrava em direção às montanhas. Após analisar a situação e sem ter certeza de poder completar o trajeto proposto até o final, resolvi atravessar os poucos metros de água e fui me acostumando a encontrar rotas litorâneas para seguir adiante. As praias continuavam feias e acumulavam bastante lixo, mas a água era incrivelmente transparente. Já vinha imaginando que não teria tempo de atingir o destino escolhido e ao chegar à praia de Platanidia (leia platanídia) me convenci de que já havia andado o suficiente em um sentido. Havia um ônibus com ponto final no balneário, porém eu tinha vontade de retornar à pé. Dessa vez pensava em pegar a rodovia principal e às 13:30 h comecei a caminhada de volta. Um dos motivos para vir pela rodovia era para visitar a estação de Ano Lexonia (leia áno lerrónia) de onde parte um trem turístico que sobe as montanhas até a vila de Milies (leia miliés). Cheguei a investigar esse passeio, no entanto ele só funciona diariamente em agosto. Os dias de julho em que também opera não coincidiam com a minha permanência. Se as praias por que passei não fossem tão longe do hotel teria parado por uma ou duas horas mas considerei que fazer outra caminhada depois seria demais. Voltei direto. Na recepção estava o falante Dimitri, com que imaginava conversar ontem sobre sugestões de visita. Ele sim tem jeito de guia turístico. Já foi dizendo para onde tinha que ir amanhã e deu mais dicas sobre o outro lado da cadeia de montanhas, onde estão os lugares mais interessantes. O único problema é que eu não estava com disposição de enfrentar dificuldades e incertezas. Não sei de onde ele tirou que eu sou francófono e, como eu não desmenti, a explicação correu toda na língua dos franceses.