Deixei a chave nas mãos dos proprietários e fui para a rua às 8:30 h. Costumava reservar 60 min para o trajeto até o terminal, mas não levava mais do que metade desse tempo. A manhã estava bastante nublada, porém dava ideia de ser neblina passageira, que se desfaria em breve. O casaco, por via das dúvidas, ficou acessível na mochilinha. St. Malo tendia a apresentar previsões de temperaturas mais baixas. A viagem do TGV era curta e levava menos de uma hora, com a reserva para as 11:33 h num trem, que imaginava, viria de Paris. Não me preocupava porque a compra feita vários dias atrás assegurava uma cadeira na fileira dos isolacionistas. Meu local de espera preferido estava bastante concorrido e resolvi experimentar a sala especialmente planejada para os viajantes, com ar-condicionado um pouco forte. Era muito confortável, com poltronas estofadas posicionadas em reservados intimistas com mesa de escola e tomada perto do chão. A conexão com a internet era muito boa, como costuma ser o padrão da SNCF, mas não havia nada para pesquisar. Dia de transferência de base é sempre mais cansativo e mal aproveitado. Além do estresse emocional de sair de um lugar conhecido para enfrentar o novo, nem sempre com possibilidade imediata de admissão, existe o cansaço físico, carregando bagagem de um ponto para outro, andando por percursos fora da normalidade, com longos períodos de espera e espantando o sono. Acho que devem ter trocado o trem porque o meu assento era em conjunto com outro voltado para mim. A comissária fez um anúncio logo em seguida avisando que, realmente, houve confusão na saída de Paris sem identificação dos vagões mas, como a lotação estava baixa, poderia ser selecionada qualquer cadeira disponível. Haveria uma parada intermediaria, pouco antes do destino final. O sol continuou por 20 min. após a partida e então o céu se fechou todo. A previsão demonstrava aberturas progressivas a partir da tarde e continuando pelos próximos dias. A temperatura, porém, nunca passava dos 20° C. Estava desconfiado do menino que sentou nos bancos ao meu lado e não deu outra. A bilheteira, após me desejar boa viagem, expulsou o penetra de volta para a segunda classe. Pelo menos não teve multa. Cheguei no hotel quatro horas antes de a recepção abrir. Iria ter que levar em conta mais um parâmetro ao reservar os quartos. Os 30 min esperando em pé me fizeram ver que não haveria exceção. A dúvida ficava entre abandonar o pequeno abrigo da marquise ou arriscar alguns pingos. Andando duas quadras cheguei ao Parque Bel-Air, com bancos de madeira. Seria, no mínimo, menos penosa a espera, contudo, não via condições de visitar os arredores carregado e teria que sentar. Resolvi começar a ler um livro, tarefa que não foi longe. As nuvens estavam muito ameaçadoras e começava a sentir pingos. Melhor ficar de pé na pequena proteção da entrada do hotel. Não entendi o que aconteceu. Havia lido mais quatro páginas quando um casal chegou e, simplesmente entrou. Fiquei observando para ver se eles haviam apertado algum botão, porém não pude perceber como eles conseguiram abrir a porta que eu já havia forçado várias vezes. Os hóspedes têm um código, mas eu estava bem na frente do teclado e ninguém poderia ter passado a mão tão perto do meu nariz. Continuei a leitura do lado de fora e eles resolveram sair. Mas não conseguiam abrir a porta! Finalmente perceberam uma tranca do lado interno. Eu aproveitei a oportunidade e carreguei as mochilas para dentro, onde pude sentar numa confortável cadeira estofada com veludo e prosseguir a leitura pelas duas horas seguintes. Fui recepcionado pontualmente e ganhei um quarto no último andar, sem elevador.
Após meia hora desfazendo a mochilinha e preparando o saco diário, saí para o reconhecimento das imediações. Bem perto fica uma das várias praias e segui pelo calçadão até chegar ao final da marina vizinha. Subi umas escadas para contornar o morro sobre o qual foi erigida uma fortaleza utilizada na Segunda Guerra pelos americanos. Passei por duas baías separadas pela Torre Solidor, do séc. XIV. Quando deixei o hotel, a recepcionista pediu para eu deixar as janelas abertas ao sair pela manhã. Fiquei curioso de saber a razão e, na volta ela explicou que era uma medida sanitária de proteção para permitir a circulação do ar. O quarto é muito bom, porém o colchão é horrível. Mole demais.