O dia hoje vai ser praticamente jogado fora. O barco para a ilha de Kos parte apenas no fim da noite e só posso ficar no hotel até 11:00 h da manhã. Não dá para fazer nada antes e nem depois. E ainda vou ter que passar a tarde tomando conta da mochilona no porto até o embarque. Claro que se realmente estivesse com vontade de realizar alguma coisa encontraria uma forma, mas a velha companheira preguiça não contribui nem um pouco para criar uma alternativa. Saí do hotel pela última vez às 10:30 h para pegar o metrô e fazer a viagem de trinta minutos até Pireus. Passada a obra gigantesca e interminável na frente da estação, atravessei a avenida e entrei no terminal marítimo. O cais definido para a minha balsa é o primeiro, bem na ponta do porto e a saída do metrô fica justamente na metade. É uma bela caminhada sob o sol. Um ônibus interno faz o percurso gratuitamente, mas preferi ir andando. Parei no meio do trajeto, numa das diversas salas de espera ao ar livre disponíveis em cada local de atracação. Sem saber como seria a condição do lugar definitivo optei por não andar muito e correr o risco de ter que voltar tudo. Ao passar das horas fui percebendo que o porto estava extremamente quieto, praticamente sem movimento de barcos. Comecei a ficar preocupado, sabendo que os trabalhadores gregos não recusam uma greve. Toda a área portuária era um deserto, a menos do eventual veículo de passeio ou coletivo e um ou outro passageiro carregando malas. Pouco depois de eu chegar um indivíduo resolveu se instalar no banco ao lado do meu e eu só esperava que ele abandonasse a posição para verificar no balcão de passagens ao lado se estava tudo normal. Após mais de uma hora o desocupado resolveu seguir a vida e eu aproveitei para inquirir o vendedor. Eu achava incrível que um porto tão enorme e com barcos turísticos e de ligação doméstica para tantos lugares diferentes não tivesse partidas e chegadas no meio do dia. O funcionário acalmou meu início de pânico dizendo que era assim mesmo, que estavam todos em trânsito. Já havia pensado em milhares de alternativas para enfrentar o caso mais drástico, desde encontrar hotéis em Pireus até ir para o aeroporto e pegar um avião para a ilha e mesmo retornar para a pousada antiga e ficar mais uma noite em Atenas. Mais tranquilo com a segurança passada pelo bilheteiro me senti à vontade para seguir pelo cais até o final, onde encontrei nova sala de espera aos moldes da anterior e com bastante sombra e vento. Já podia esperar com calma as nove horas até a partida. Por volta das 20:00 h começaram a chegar os taxistas às dezenas, sinal de que um navio grande se aproximava. Dessa vez tinha bastante banco e eles se contentaram em se reunir mais para a frente me deixando algum espaço. E o vento evitava que a quantidade de fumaça exalada voasse na minha direção. No entanto, ainda deu para ficar ouvindo uma hora de falatório em grego ininteligível. Duas horas antes da partida foi permitida a entrada. As pessoas procuram logo as poltronas dos bares para se sentar ao redor de uma mesa. Eu havia feito a reserva numa poltrona de avião e, quando entrei no recinto exclusivo, me assustei por ser o único no amplo ambiente. Apesar de faltar muito tempo para a saida parecia que a embarcação não ia ficar muito cheia. Mas, como o percurso é pinga-pinga, havia muita oportunidade para surpresas. Fiquei impressionado com o conforto dos assentos e a possibilidade de escamotear os braços, criando uma bela cama. O pessoal de bordo é meio chato e vira e mexe tem alguém puxando os pés dos folgados para evitar excessos. O salão ficou lotado e nem deu para pensar em se esticar muito, porém dormi bastante, sob a proteção do casaco e de uma toalha.