A abertura do céu que via pela janela do quarto não fazia nenhum sentido em relação com as previsões sombrias das páginas metereológicas para hoje e amanhã. Aproveitei para sair às 7:45 h, sem pensar em realizar grandes deslocamentos, apenas com a ideia de ficar algum tempo na praia. Como faltava apenas pouco mais de meia hora para passar o ônibus para Desenzano, que teria que pegar no último dia para seguir para Florença, resolvi esperar um pouco no ponto na frente do hotel para ver se ele apareceria no horário esperado. Também entrei na tabacaria da esquina para comprar a passagem com antecedência. Ao se aproximar o horário consultei novamente a tabela que carregava no celular e percebi que havia olhado na coluna errada, da ligação de inverno, e a seguinte seria somente em uma hora. Isso ia ser um problema porque chegaria muito tarde para pegar o trem necessário. Passei a achar que teria que madrugar no dia da transferência. Comecei a andar na direção de Maderno para ver se encontrava uma praia razoável. O acesso à água que sai da frente da hospedagem levava unicamente à passarela de madeira sobre o lago, de modo que continuei caminhando. Percebi que o vento e o sol fraco, apesar do céu completamente azul, não me deixariam aquecido o suficiente. Além disso não ficaria tranquilo esperando uma nuvem feia que podia nem aparecer, ou aparecer a qualquer momento. Passei a cogitar da possibilidade de usar a passagem adquirida havia poucos minutos para conhecer outra cidade do lago, imaginando também que encontraria abrigo mais facilmente em caso de necessidade. Terminei o itinerário de dois quilômetros até o ponto de ônibus no centro de Maderno, onde o vento estava ainda mais forte e frio. Faltavam trinta minutos para a chegada do veículo e sentei num banco de ferro na frente da igreja para ver se o fraco sol aliviava a sensação ruim. Em vão. O quarto de hora de sol foi suficiente para que nuvens passassem rapidamente a macular ameaçadoramente o céu. Entrei no ônibus das 9:14 h, que passaria pela frente da hospedagem em três minutos e chegaria em Desenzano às 10:00 h. A primeira providência ao desembarcar foi comprar um bilhete de ida e volta para o hotel para repor o usado e garantir a viagem de segunda-feira. Tentei também comprar a passagem de trem mas não havia jeito de nenhuma das duas máquinas aceitar meu cartão. Entrei na fila da bilheteria humana e o vendedor conseguiu realizar o operação sem problema. O sol já havia sumido novamente e caía uma fria garoa. Procurei me abrigar do vento num canto do terminal, sem muito sucesso. A perspectiva de visita à cidade já tinha sido abandonada desde que havia chegado e ainda tinha esperança de caminhar até um supermercado a um quilômetro para poder descer do ônibus e entrar direto no quarto. Tentei ir para a plataforma para conseguir ver quando a situação das nuvens me deixaria arriscar a ida até a loja mas o vento não permitia esperar ao relento. Encontrei uma sala de espera mais quentinha, de onde tinha visão parcial do céu e me dediquei a aguardar o que acontecesse primeiro: uma ligeira melhor que possibilitasse o abastecimento alimentar ou a saída do ônibus. Havia um horário próximo porém achei melhor aguardar por duas horas o seguinte, das 13:30 h para não chegar cedo demais à pousada. Uma hora antes aproveitei a breve trégua e fui ao mercado. As duas preocupações eram a volta da chuva enquanto me deslocava e a proximidade da partida. Nenhuma causou problema. Infelizmente o supermercado era ótimo e lamentei não poder pesquisar os artigos com calma. Quando voltei o ônibus já estava estacionado aguardando passageiros e eu fui o primeiro a entrar, louco para passar o resto do dia entre quatro paredes de um ambiente sem vento gelado. Na saída a garoa recomeçou. Os últimos viajantes a entrar faziam parte de uma família de alemães. Não sei se eles têm algum incentivo para aumentar a descendência mas o casal geralmente tem dois filhos adolescentes e um temporão. E os alemães são os estrangeiros que mais visitam o lago, aparentemente, estando por todo o canto e em todos os passeios e atrações. A hora que levei para chegar em Gardone foi suficiente para trazer a chuva de volta e precisei me molhar, apesar de ter somente que atravessar a rua para entrar na hospedagem.