As informações que tinha prenunciavam um dia totalmente inútil e eu aproveitei para ficar um pouco mais na cama. Resolvi sair às 9:00 h, mais para deixar o quarto livre para a faxineira do que por vontade de fazer alguma coisa. Como o céu estava todo encoberto com nuvens pesadas e mais fechado do que parecia da janela comecei a andar na direção de Maderno sem esperança de ir muito longe. A curta distância permitiu que chegasse sem me molhar e escolhi um banco na beira do lago para lastimar a situação. Observando as condições das nuvens reparei que o vento as soprava da superfície da água em direção às montanhas no fundo e a outra margem começava a ficar um pouco mais clara. Comecei a achar que poderia considerar uma travessia de balsa e, quem sabe, realizar parte do passeio que havia conseguido pacientemente montar a partir dos horários disponíveis. A ideia inicial era sair na primeira ligação do dia, às 8:00 h mas, em vista da situação climática, estava mais de duas horas atrasado. Mesmo assim decidi arriscar. As nuvens que encobriam as altas montanhas estavam assustadoramente negras, no entanto o vento as insuflava cada vez mais para trás, trazendo outras mais leves. O vendedor não me deixou usar o cartão e tive que pagar em dinheiro vivo, mesmo com o aviso de possibilidade de transação eletrônica. Dentro do barco o sol inclusive começou a aparecer. Esse serviço cruzava o lago entre as cidades de Maderno e Torri carregando carros e pedestres, sendo bem mais frequente do que os que levavam apenas passageiros na conexão das demais cidades, com saída a cada meia hora. Depois de vinte e cinco minutos o capitão atracou no balneário que se apresentava aos visitantes com um belo castelo de torre central e seteiras. Sentei num banco de madeira do parque à beira-lago para colocar os pensamentos em ordem e fiquei espantado com a dispersão praticamente total das nuvens nesse lado das águas. Após meia hora passeando pela simpática cidade iniciei a caminhada de seis quilômetros até a vizinha Garda, localidade que emprestava o nome para o lago. Boa parte do percurso teve que ser feita pela estrada que, pelo menos, tinha acostamento razoável. Parece que escolhi o balneário mais sem graça do lago para me hospedar. Todas as cidades por que havia passado até então apresentavam belas calçadas com muitos bancos ao longo do litoral. O bairro em que eu estava, um pouco afastado do centro, não tinha nada disso. É verdade que fui influenciado pelo preço de diária mais baixo que encontrei porém a visão mais ampla que podia obter ficava a dois quilômetros para um lado ou para outro, nos calçadões de Gardone ou em Maderno. Garda também era adornada por uma agradável calçada na orla e tinha um movimento muito grande de turistas. Peguei a barca das 14:30 h para iniciar o retorno. Só que em vez de escolher o caminho curto e direto resolvi fazer a ronda por algumas cidades e verificar quais os atrativos da navegação. Foi um erro fatal. Já havia acostumado com o tempo seco e nem pensei na possibilidade de chuva. As ligações limitadas me deixaram esperando mais de uma hora no porto em que deveria trocar de barca e o que mais me preocupava era a tremenda nuvem escura que cobria todo o outro lado do lago. Enquanto aguardava pude ver seu deslocamento atravessando as águas e achei que pudesse ter sorte de escapar com a longa espera e distância. As trovoadas, no entanto, não me deixavam tranquilo e me lembravam que, depois de sair do barco, ainda teria que andar alguns quilômetros para chegar no hotel. Para evitar a ventania que peguei na vinda e, eventualmente, alguma chuva decidi viajar na parte fechada do barco, apesar do ar-condicionado ligado. Tive que pagar um suplemento porque a ligação era rápida e percebi que o caminho voltava para Garda, de onde havia saído duas horas antes, para então atravessar o lago para o meu lado. O itinerário que eles percorriam realizava um ziguezague entre as margens, parando de um lado e cruzando, e repetindo essa sequência até completar o roteiro, que podia variar de mais de duas horas, até mais de quatro horas nos barcos mais lentos e com mais paradas. Se não tivesse me metido a querer conhecer tudo de uma vez, talvez pudesse ter chegado em casa mais cedo e evitado a chuvarada que quase certamente enfrentaria. E ela chegou quando estava em plena navegação. Acho que isso foi positivo e pude atravessar abrigado a nuvem que escondia tudo ao redor. O piloto até teve que diminuir a velocidade num trecho onde a tempestade estava mais torrencial. Contudo, já no porto seguinte, não chovia mais, apesar de parecer que os novos viajantes tiveram que formar a fila sob o dilúvio, a julgar pela capas. Estava pensando em descer em Maderno e passar no supermercado mas a nova leva de nuvens me fez tentar ser precavido e sair num ponto antes para ver se conseguia chegar seco. Deu tempo porém uma hora mais tarde, após o longo banho, caiu mais uma grande tromba d'água.