31/jan/19

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02/fev/19

Os dominicanos gostam de louvar. A primeira demonstração disso foi a trilha sonora das quatro horas de viagem desde Samaná. Ontem tive mais um exemplo barulhento. O último piso da pousada, com fachada coberta por tábuas horizontais de madeira, é um amplo salão aberto que serve como local de eventos. Meio sem querer, dois dias atrás quando estava sozinho no hotel e tentando desvendar o mistério da internet sumida, passei para trás do balcão da recepção e percebi uma escada que dava acesso ao andar superior. Foi então que fiquei sabendo da possibilidade de reuniões no ambiente com palcos, muitas cadeiras de plástico e vários instrumentos musicais. A festa que pude presenciar de ouvido teve início perto das 20:00 h e durou demais para o meu gosto. Recheada de aleluias! e glórias!, teve muitos discursos em tom inflamado, sermões exaltados, palmas e, principalmente, música bem alta, estridente e desafinada. Não podia entender o conteúdo e nem estava interessado, porém era possível identificar as palavras chave. Por vezes parecia mais um palanque político ou mesmo chamamento às armas. E eu achando que Punta Cana tinha sido o ápice da acomodação bizarra! Serviu como uma distração aborrecida enquanto tentava adormecer, ao menos abafando a conversa gritada do casal vizinho e o choro da criança. Não dava a impressão de eles serem hóspedes regulares do hotel e mais de que estavam morando temporariamente de favor. O carrinho de bebê ficava sempre do lado de dentro do balcão na recepção, e fazia questão de chegar cedo e me trancar no quarto para não ter que encontrá-los na sala comum à frente do computador do chefe. Acordei de repente, à 1:30 h da manhã. Não pude evitar a curiosidade de verificar o estado da internet e, para minha completa surpresa, estava excelente. Será que a pregação do pastor no culto foi forte a ponto de invocar o poder do Espírito Santo e abençoar a propriedade? Blasfêmia à parte, nem tudo estava bem, no entanto. A contrapartida foi a falta de água em todas as torneiras. Ao acordar com os galos e constatar o funcionamento parcial da arapuca anti-pombos, em que eles não conseguiam entrar em casa mas ficavam gemendo do lado de fora do túnel na parede, verifiquei que o estágio miraculoso não havia passado de todo. No tablet continuava praticamente inutilizável mas no celular dava para fazer alguma coisa. O retorno do líquido vital nas bicas também ajudou a me tranquilizar. De madrugada recebi uma mensagem automática do Booking alertando de que faltavam 48 horas para o término do prazo de cancelamento gratuito da reserva em Santo Domingo. Isso me transportou por mundos de possibilidades que não me deixaram voltar ao sono tão cedo. A hospedagem da Alicia estava longe de ser agradável e tinha a oportunidade de tentar algo mais aprazível. Com o funcionamento razoável da rede pela manhã marquei as duas diárias finais para outra pousada, que pelo menos tinha uma fachada bem mais simpática, conforme observei quando passeava pela Zona Colonial. E ainda economizaria alguns dólares. A ideia original, contudo, era ficar até o último dia em Puerto Plata e pegar um avião direto para o aeroporto Internacional da capital, evitando assim a necessidade de contratar traslado. Uma consulta às agências de viagem mostrou, no entanto, que não existe voo direto entre Puerto Plata e Santo Domingo, tendo que fazer conexão em Miami! Teria que me contentar com um ou outro táxi. Atrasei um pouco a saída do quarto de olho nas nuvens escuras, que não indicavam a viabilidade de ir direto para a praia. Saí às 9:15 h indo para o lado oposto, em direção ao centro histórico. Também já estava decidido a comprar a passagem de ônibus que parte de perto do hotel, apesar de ter que caminhar mais de cinco quilômetros quando chegasse, distância que aumentou com a escolha da nova pensão. Se fosse sair da Caribe Tour, que aqui fica mais longe mas na capital é um pouco mais perto, acabaria economizando apenas um quilômetro, sendo que pela empresa Metro, minha favorita, poderia aproveitar ainda a possibilidade de comprar com antecedência, garantindo o lugar, e usar o cartão de débito.