Deixei o quarto uma hora e meia antes da partida do trem regional para Nantes. Tirei o casaco do saco mais para aliviar peso do que por frio, mesmo o céu estando totalmente encoberto. Após o anúncio da plataforma com 30 min de antecedência, abordei o comboio que faz a ligação ininterrupta das duas cidades em pouco mais de uma hora. Escolhi um assento no andar de cima do último vagão, num conjunto de quatro, confiando em que não haveria muitos passageiros. O ventilador estava forte e apontava diretamente para minhas pernas descobertas. O boné sobre o joelho amenizou o desconforto. Mesmo com os diversos campos agricultáveis, o trajeto atravessava área intensamente florestada e acompanhava, em boa parte do trajeto, o Rio Vilaine. O visitante é muito bem recebido ao sair do terminal pelo convidativo Jardim de Plantas, habitado por personagens alegres e amigáveis. Descobri mais tarde que era uma das diversas instalações artísticas que animam a cidade no verão. O abrigo voltou para o saco e os sinais nos vidros respingados e nuvens cinzas sugeriam que havia acabado de cair uma garoa. Fiquei surpreso ao passar pela frente da Catedral de São Pedro e São Paulo e perceber um grande canteiro de obras. Em julho de 2020 um incêndio de proporções importantes destruiu o órgão do séc. XVII, estourou os vitrais e queimou uma pintura da segunda metade dos anos 1800. As demais obras foram salvas graças à agilidade do resgate. A esplanada que passa por trás do templo terminava no Memorial da Primeira Guerra. Segui no sentido que se afastava do centro para percorrer as margens do rio menos famoso, o Erdre, que se junta através de uma eclusa com um dos braços do Rio Loire. Foi uma volta curta e, após admirar a estátua de Charles De Gaulle, retornei para o lado do rio de nome conhecido. Antigamente ele ficava na beira da água mas, com os desenvolvimentos e aterros recentes, o Castelo dos Duques da Bretanha se encontrava agora ao lado da linha de bonde e ainda era preciso atravessar os trilhos do trem e andar bastante para chegar ao rio que se divide para contornar uma ilha. A ideia inicial era acompanhar a margem por um trecho entre duas ou três pontes e retornar para o Castelo. No entanto, além do horário apertado, não parecia haver nada muito turístico nas imediações e decidi conhecer a atração principal imediatamente. Havia no caminho uma torre bonita, que fazia par com a demolida, sobre a qual fiquei sabendo, pelos cartazes de informação, que fazia parte da fábrica de biscoitos cuja marca mais conhecida é a Petit Beurre. A entrada no Castelo é gratuita para visitar as muralhas e o pátio interior, contudo o Museu de História, alojado no prédio em que moraram os duques, e as mostras temporárias, que ocupavam um antigo edifício de manutenção, requeriam bilhetes de ingresso. Estava na dúvida se queria entrar no museu, principalmente por causa do horário. Faltavam duas horas para a partida do trem de retorno e não achava que teria ânimo para conhecer a exposição apressadamente. Fiz todo o circuito das muralhas sob sol forte e me diverti na livraria. O sortimento não era tão abrangente, porém a biblioteca ganhou alguns novos títulos. Retornei ao Jardim de Plantas para gastar os minutos dando outra volta pelo belo parque, dessa vez reparando no monumento com o busto de Júlio Verne, o filho mais famoso da cidade. Terminado o circuito da alameda que contornava o jardim, segui para a estação ferroviária onde ainda aguardei um bom tempo. A lotação foi bem maior do que na vinda mas pude manter uma poltrona extra para o saco de utilidades. Mais uma vez, nada de bilheteiros para conferir as passagens e o peso para manter os olhos abertos era quase insuportável.