Depois de dois dias de passeios profanos hoje era vez da visita sacro-cultural agendada previamente. Os Jardins do Vaticano só podem ser percorridos mediante inscrição em grupos com acompanhamento de guia e havia feito a minha ainda em São Paulo e escolhido o horário das 9:30 h. A sugestão era de chegada com meia hora de antecedência à entrada dos Museus para a troca do bilhete. O GPS calculou um caminho que não teria sido minha opção sem auxílio, mas que resolvi percorrer já que seguia um percurso diferente do que conhecia. A distância era de cinco quilômetros, que imaginava completar em uma hora. Estava tudo preparado para sair às 7:30 h mas resolvi fazer o pagamento do Sérgio antes e precisava primeiro resgatar uma aplicação. Gastei vinte minutos no processo e acabei deixando o hotel apenas poucos minutos antes das 8:00 h. Imaginei que a visita fosse requerer bastante hidratação e por isso passei no supermercado antes de iniciar a caminhada. No meio do trajeto o mapa me aconselhava a atravessar um grande pulmão de Roma, a Villa Borghese. Andei pela calçada ao longo da avenida sem entrar nas alamedas do parque mas o trecho foi muito agradável. Após atravessar uma ponte sobre o Rio Tibre segui mais um quilômetro até a Muralha da Cidade do Vaticano, junto à qual se formava a longa fila para entrar nas bilheterias do Museu. Os visitantes com hora marcada tinham prioridade e entravam pelo mesmo portão, porém através de outra fila, muito mais camarada. Depois de passar pelas máquinas de raio-x existia uma área de esperar exclusiva para os passeios agendados, onde alguns guichês trocavam o comprovante da reserva pelo ingresso. No meu caso a escolha incluía a entrada acompanhada nos Jardins seguida de tempo livre nos Museus. Houve um atraso de meia hora porque a guia estava com dificuldade de encontrar o acesso ao parque que, segundo ela, era constantemente trocado. Após andar para um lado e outro, finalmente, um guarda abriu o portão para o grupo de quase cincoenta pessoas. Foram duas horas de caminhadas moderadas pelas alamedas tranquilas da ala meditativa da cidade dos papas. A falta de água por que estão passando impedia a maioria das fontes de funcionar, com o líquido sendo revertido para o sustento das plantas. Muitos dos participantes eram russos, poloneses e japoneses que, junto com a guia, estavam sempre à procura de uma região com sombra e se abanando. Das atrações mais diferentes chamou a atenção a réplica em menor escala da Gruta de Lurdes, a alameda onde crescem as plantas mencionadas na Bíblia e a rua onde são plantadas as espécies doadas por dignatários e povos estrangeiros. Lugar especial estava dedicado à oliveira israelense, trazida com símbolo da aproximação recente entre cristãos e judeus. Os Estados Papais sempre tiveram uma história conflituosa com diversos vizinhos e as muralhas de proteção e suas torres ainda atravessam o pequeno país. Ao meio-dia o grupo foi liberado para exercer suas atividades particularmente e eu iniciei minha visita pelo Pavilhão das Carruagens em que ainda não havia estado em anos anteriores. Além das carroças usadas pelos papas desde o século XIX, também faziam parte da exposição os automóveis doadas por fabricantes e particulares e os veículos desenvolvidos especialmente para o chefe da igreja católica, assim como adereços usados por cocheiros e cavalos. O conjunto de museus do Vaticano apresenta coleções muito ricas e diversificadas, que incluem peças egípcias, etruscas, gregas e romanas, além de vasta Pinacoteca e salas dedicadas a mapas e cartas geográficas, tapeçaria e itens oferecidos como forma de homenagem. As construções e o patrimônio artístico foram sendo ampliados ao longo dos papados, atingindo a atual grandiosidade, responsável pela quantidade absurda de visitantes que, em vários trechos do passeio, chegava a irritar pelo congestionamento causado. As paredes excepcionalmente decoradas com pinturas, quadros, afrescos e murais colocam a instituição no primeiro posto dentre seus pares. Obviamente a atração principal era a Capela Sistina, cujas paredes e teto foram usados como suporte artístico em vários períodos, culminando com as obras-primas de Michelangelo. Desde pouco depois de iniciar o percurso, perto ainda do hotel, percebi que havia esquecido as baterias extras para o celular. Apesar de estar usando a nova, que leva mais tempo para descarregar, não seria possível passar o dia todo com apenas uma e tive que economizar o máximo que pude. Essa foi uma das razões de não ter entrado na Basílica de São Pedro ou subido em sua Cúpula. Mas também influiu bastante a fila enorme que aguardava sob o forte sol a passagem pela segurança.